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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

De noites e dias...

A contragosto, se dormiu o dia...
Cheia de insônias, se achegou a noite
De lua em lua, eu lambo as feridas
Com sal da alma, a curar açoites...

Poncho de noite, vazado em luz
De três-marias, cruzeiro e d’alva
Na madrugada, eu descanso a cruz
Busco a poesia - e ela me salva

Verte no verso, o que não espero
Tudo que sangra - e quase me mata
Chora minha pena e eu já não quero
Provar desgosto, no limiar de prata

Melodia rude, um valseado triste
Vem do infinito, para o coração
Até o tempo, já não mais insiste
Pois sabe o tempo desta solidão

Bem preguiçoso, se acordou o dia
A contragosto, vai se indo a noite
De sol a sol, eu lambo as feridas
Com mel da alma, adoço os açoites




sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A FOLHA EM BRANCO




A folha em branco é um desafio... um nada em busca de tudo... ou de parte... é o desleixo – ou a ingratidão – da arte. É o silêncio, em busca da palavra... é a palavra escondida pela escrita vazia, no pensamento não externado... é hemorragia contida, futura sangria desatada.
A folha em branco me assusta! Fala muito do que não foi dito, do que está guardado... ou, que não foi, sequer, ainda pensado.
É mar silente e revolto... superficial e profundo... é aldeia e o mundo!
A folha em branco é promessa... sonho realizado ou frustração! Contém o expresso e o oculto, o sim e o não...
É o poeta cansado... ou divagando. É o poema absorto, calando... ou o verso a voar, poetizando...
A folha em branco é a vida... querendo passar, ou simplesmente viver... é democrático espaço – ou não – a quem quiser escrever...
A folha em branco é segredo, que todos querem saber... talvez, o verbo indigente, que ninguém jamais declara e muito tentam esconder.
A folha em branco é o eterno... onde se espraia a vontade, ainda que não queira acontecer... é afirmação do contraponto, é o nascer... e o morrer.
Quiçá um desenho ou rabisco... intrigante princípio, do fim ou do início.
É o portal da sapiência... ou confirmação da ignorância... é o universo e o tempo, descansando a distância.
Ela espera a pena, que lhe deseja ou destrata... que lhe agranda ou apequena... que lhe afaga ou maltrata... é carinhosa ou ferina... sei que o vazio não lhe basta!
A folha em branco, assim como eu, tem sede e tem fome... sonha a fonte, para se alimentar e beber... somos bocas caladas, com almas esfomeadas, querendo dizer...

Caine Teixeira Garcia, Bagé/RS – 26/09/2014




domingo, 21 de setembro de 2014

Sobre política - um pouco...

Tenho profunda admiração por aqueles que concorrem em pleitos eleitorais... Não dos comprovadamente corruptos, não dos usurpadores da democracia, mas daqueles que enfrentam as dificuldades e os desafios que uma campanha política impõe aos seus "combatentes" com anseios e objetivos dignos... é uma caminhada desgastante e que acaba refletindo em todas as áreas das vidas dos candidatos...
Não é fácil dar a cara à tapa, em busca de objetivos, de ideais, de um sonho... ser olhado sempre com uma "lupa gigantesca" à cada movimento e passo dado... ter a vida investigada e, muitas vezes, distorcida aos olhos de seus iguais...
Sim, e o verdadeiro político trabalha, e muito...
Quem se candidata demonstra coragem e verdadeira vontade de mudança, alheio às vaias que, muitas vezes, são oriundas tão somente da inveja, da falta de preparo, do fanatismo, da vontade única e simples de desconstruir... não raro, por interesses indignos, daqueles que bradam por dignidade e por atitudes e condutas ilibadas.
Grandes políticos começaram brilhantes carreiras com muito esforço, lá em suas cidades e regiões de origem... não esmoreceram, deram e ainda dão o seu melhor...
Em contraponto, sabemos, existem os que nunca foram corretos e os que se perderam no caminho... mas isso, acontece em todos os setores e esferas com as quais interagimos... afinal, em tudo, nada mais temos do que os reflexos de nossa sociedade.
Mas uma coisa é certa: a política não é feita somente de corruptos, de mal feitores, de enganadores...ao contrário.
E a verdadeira política, essa é para poucos... e, com certeza, seus objetivos jamais lograrão êxito por meio de atitudes covardes.
Um abraço democrático a todos os corajosos... em suas mãos, até que provem o contrário, está o nosso futuro e o de nossa gente!

sábado, 20 de setembro de 2014

Obrigado meu Deus, pelo privilégio a mim concedido de nascer GAÚCHO! O Rio Grande do Sul é o estado com uma das mais lindas culturas do mundo. Tem ares e status de Pátria! Viva a imensa família gaúcha, viva o nosso povo guerreiro e liberto. Viva a nossa terra!
Desenho feito há uns 30 anos atrás, baseado em um obra de arte de Átilla Sá Siqueira.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

SOBRE SEMANA FARROUPILHA



Me agrada a Semana Farroupilha, embora não compareça a desfiles e nem tenha um cavalo à campo ou em cocheira para encilhar durante as festividades e desfiles...
Alheio às questões discutidas calorosamente sobre quem venceu ou quem perdeu a Guerra dos Farrapos (tenho minha opinião formada, de forma política, cultural e histórica), cada vez mais eu tenho certeza que a Semana Farroupilha é sim um movimento genuíno, autêntico e do qual os gaúchos se orgulham... e falo aqui tanto do gaúcho “de apartamento”, quanto do “campeiro”... o sentimento de orgulho que toma conta de nossa gente parece ser maior do que tudo e todos. Além de exaltar nossas tradições, nosso povo também aprova a exposição de nosso jeito bairrista de ser... e eu também aprovo.
E aprovo com a mesma convicção que me faz ser a favor dos CTG’s, ainda que com grandes ressalvas e desconfianças relacionadas aos patrões (oas) e suas patronagens, por motivos óbvios a quem conhece o meio. Este posicionamento, às vezes, me faz meio que perder a cabeça e acabo falando ou escrevendo muita bobagem das quais me arrependo depois, porque termino por atingir as entidades, devido a irritação que alguns destes seres me causam. Mas a grande verdade – e tenho dito isso reiteradamente – é que considero os Centros de Tradições Gaúchas um dos melhores ambientes que conheço,  quando neles é fomentada a cultura por meio de setores artísticos e campeiros fortes e atuantes.

Coisa linda, é ver um piazito e sua prendinha dançando uma “Tirana do Lenço,” “Tatu com volta no Meio” e demais danças...
É macanuda a gritaria e o divertimento proporcionado por uma partida de truco, por uma tertúlia livre, assim como os rodeios e festas campeiras se fazem importantes para a manutenção do que se tem conceituado hoje como movimento tradicionalista.
Penso que a questão recorrente quanto ao fato de os CTG’s cultuarem ou não a “verdadeira” tradição do RS, se faz ultrapassada, pois com erros e acertos, com baldas e manhas, com absurdos ou não, trata-se de tradição e ponto. São costumes, comportamentos, memórias e lendas perpetuadas através dos anos e, não há como deixar de dizer, arraigadas em nossa sociedade, ainda que em parte.
Assim sendo, encerro este ponto do assunto, reverenciando nossa bandeira e nossos costumes e tradições “cetegeanas”...acho até, que todas elas...
“Dito” isto, deixo agora, um alerta aos amigos do nosso meio “nativista” que teimam em dissociar-se do tradicionalismo, muitas vezes, inclusive, desfazendo e falando mal de CTG’s e do movimento tradicionalista como um todo: abram seus olhos, desçam de seus pedestais. Eu participei do movimento tradicionalista – e ainda participo, hoje de forma menos atuante - e sei que muitos dos artistas que autalmente sobem aos palcos dos festivais são oriundos de CTG’s, começaram lá suas carreiras, é lá que foram estimulados e desenvolveram seus talentos. Conheço, inclusive, gente que diz que desde sempre foi “gauchão”, “campeirão”, mas na verdade só conheceu cavalo depois que trocou a bicicleta, ou uma “garelli”,ou motinho, ou skate, por um cavalo emprestado para desfilar no “20 de setembro”. A maioria dos que vejo desdenhando do  movimento tradicionalista e das regras impostas por CTG’s não se dão conta de que é lá que está grande parte dos apreciadores de sua arte, os consumidores e clientes de seus trabalhos, seja o estilo que for dentro do meio... e ainda que estes sejam totalmente baseados em inverdades, como muito do que vemos e presenciamos por aí. Por horas, vestir as “alpargatas da humildade” e descansar a  língua ferina pode ser sábio. Prá que ser tão  “campeiro”? Nem todos se deixam enganar. Que sejam justas a remunerações pagas às brilhantes apresentações realizadas nos palcos do tradicionalismo... e que nenhum “cocho” seja virado... é desnecessário.
Os que são realmente contra, sugiro que não adentrem mais os CTG's, afinal, me parece contraditório. Aos que enxergam a existência de muita coisa errada mas apoiam o meio, sugiro que mostrem o caminho certo, digam de onde tiraram sua “literatura” interna e verídica, em que estão baseados. Mas não se apropriem de discursos de outros, não utilizem fragmentos filosóficos editados por cabeças, muitas vezes,  vazias.
Para muitos eu desejo menos pó – seja do tipo que for - na mente e nos livros e estantes.
Me parece que a hipocrisia anda bem mais a cavalo do que muitos dos que arrotam campo e mato, terra e galpão.
Por um lado, eu até entendo essa fome de mídia, embora muitos a reneguem, mesmo que estampados em manchetes conseguidas por meio da incessante busca por holofotes. Grande parte do marketing é feito e realizado pelo engodo que há em se dizer avesso a ele.
Um grande abraço e boa Semana Farroupilha a todos.

domingo, 14 de setembro de 2014

LUIZ CORONEL E O MEU BODOQUE

Se existe alguém no meu Rio Grande que necessita ser estudado a fundo (no meu entendimento), este alguém é Luiz Coronel. Dono de um vocabulário invejável e de uma vaidade que não fere, mas arrebata, sinceramente o considero uma pessoa adiante do seu tempo - e de outros tempos que virão. Sinto orgulho deste bajeense, cuja alma considero extremamente iluminada. Sempre que assisto as suas entrevistas e declarações, trato como uma grata oportunidade. É poeta na plenitude da palavra.
Nunca estive com ele pessoalmente. E sem qualquer medo de ser chamado de puxa-saco ou adulador, confesso que seria uma pessoa com quem gostaria de ter uns bons minutos de prosa, algum dia.
Lembro que quando compus a música "De Volta", troquei algumas palavras com o poeta e escritor, pois sonhava em tê-lo como aquele que "encarnaria" o personagem e a mensagem contida na letra, recitando algumas palavras. Imaginei que isto seria aprazível para ambos, pois Luiz Coronel sempre demonstra seu carinho por Bagé, nas mais diversas manifestações que realiza. Ele tem um amor, uma paixão tal por nossa cidade, que para mim só isso já o torna uma pessoa especial, não bastassem os demais atributos que todos bem conhecem. Bom, gentilmente o convite feito para que o ilustre conterrâneo fizesse parte da apresentação da música foi negado (o que já era esperado), vez que em sua agenda faltava espaço para acolher a tantos convites para a mesma data. Logicamente, mediante uma gentil declaração de que sentia muito não poder atender a empreitada.
Não sei qual a relação, mas escrevi tudo isto até agora, para contar que hoje, ao falquejar uma forquilha para "fabricar" um bodoque* para meus guris (e para mim), lembrei o tempo inteiro da música citada e de Luiz Coronel. A forquilha já meio seca, foi perdendo a casca, ficando esbranquiçada e, consequentemente, mostrando mais seu conteúdo. Foi sendo lapidada e ficando mais bonita... isso me lembrou de uma relação louca que temos com o tempo e com as palavras... e acho que isso talvez seja um pouco Luiz Coronel... um homem falquejado pelo tempo, pelas andanças... que tem raízes no seu lugar, o exalta, mas que ao mesmo tempo, é do mundo, é universal. Um homem certamente melhorado - e que melhora a outros - pela poesia, pelos versos pelas palavras. Isso tem muito da música que falei... e muito do meu bodoque (estilingue não habita meus dizeres). Me faz lembrar daquele ditado/provérbio que diz "A pedra atirada, a palavra proferida e o tempo jamais retornam". Alguns trocam a pedra por flecha... mas o significado é o mesmo!
Ao terminar meu "artesanato", mirei minha obra (que não lixei muito para não perder o seu lado "campeiro" e nostálgico)... imaginei as tantas pedras que meu bodoque irá atirar... a diversão que trará para mim e para meus filhos...
Contrariando ao provérbio, sou capaz de afirmar que estas pedras lançadas fincarão alicerces para ensinamentos que certamente teremos... simples assim...portanto, não só voltarão, como sempre estarão ali, presentes. Assim como as palavras... e o tempo... que tenho plena certeza que sempre retornam, numa música, num verso, num abraço, numa lembrança... em cabelos grisalhos e em penas antigas, que reverberam saudades e porvir! Muitas vezes, os tempos que mais voltam são os que nunca vivi. É mesmo uma loucura.
Mirando o singelo bodoque, sequer sou capaz de imaginar o que aquela forquilha passou para chegar até aqui...mas que ficou lindo, ah, isso ficou... E lembro do grande Luiz Coronel... que bodoque de lindas e esmeradas palavras... que, mesmo sangrando, não ferem.
* o bodoque certamente não servirá para judiarias com seres vivos... não se assustem...





quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Rio Grande enlutado...

Se confirmado que o incêndio no CTG de Santana do Livramento foi realmente ocasionado por um ato criminoso, trata-se de algo surreal...
É a bestialização total, inequívoca e deplorável do ser humano...
É inadmissível que a contrariedade e a oposição à ideias se traduza em violência, em afronta à vida, ao patrimônio e, neste caso em especial, ao direito de cada um de nossos cidadãos.
Fico deveras decepcionado, primeiro, por ser da fronteira e, muito mais ainda, por se tratar de um fato que hoje, certamente, contribuirá para inflar aquele sentimento que todo o Brasil tem de que os gaúchos são retrógrados, intolerantes, racistas, preconceituosos, homofóbicos, etc, etc...
Me dói na alma admitir, mas começo a pensar que talvez sejamos tudo isso mesmo...
O povo tolera abusos de poder, tolera corrupção e, não raro, vende sua dignidade por quaisquer benefícios vis. Em contraponto, não consegue conviver e nem estabelecer um Estado de real igualdade e oportunidades...
Que triste isso... que lastimável... que decepcionante...
Essa história de ser "machão", de ser "forte" nas opiniões, de não aceitar ser contrariado em hipótese alguma, não cabe e não serve mais para um mundo tão carente de boas pessoas e de melhores atitudes...
Vergonha para a fronteira, vergonha para o Rio Grande, mau exemplo para o Brasil e para o mundo!
Isso não pode ficar assim, os responsáveis devem ser encontrados e punidos de forma exemplar...
Não há justificativa e também não deve haver banalização do ato e tampouco condescendência do Estado para com estes indivíduos que emporcalharam nossos espíritos e a nossa pátria sulina!
Crimes como esse, atentam contra a humanidade, contra a existência, contra a paz, contra todo e qualquer bom princípio...
Hoje a moral, a honra e a dignidade do Rio Grande estão de luto!
É o que penso...

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Lá de longe, onde as esporas
Ainda fazem “mossa” nas botas
Tomara que me procurem
E aí, então, as coisas mudem
Com serviço, Deus me ajude
- um par de pernas cambotas -

Caine T. Garcia

domingo, 7 de setembro de 2014

DOCUMENTÁRIO SOBRE O ROCK GAÚCHO

https://www.youtube.com/watch?v=hOaM_UNqs7s
OS PORÕES DA HIPOCRISIA

A hipocrisia é um dos grandes venenos que absorvemos – e que ministramos – durante a nossa existência terrena... presente em nosso cotidiano, invariavelmente nubla nossos conceitos, nossa visão e, principalmente, nossa capacidade de discernimento...
O fato de alguém atribuir e defender que algumas pessoas ou grupos devam ter determinadas obrigações morais que a si não cabem, é algo realmente intrigante... E NOCIVO! Mas quem nunca? A hipocrisia parece estar presente em todos os seres humanos, com uma diferença única e exclusiva a ser observada em sua “dosagem”  e utlização...
Na verdade, ser hipócrita, como tantas outras coisas, nada mais é do que uma opção... trata-se de comportamento, seja ele natural ou adquirido... opcional, ou necessário...simples assim, ao meu ver. Ocorre que, não raro, acaba por tornar-se um vício, uma regra e, fatalmente, ocupa boa parte da personalidade e caráter do indivíduo... triste, não é mesmo? Mas é verdade...
Porém, eu seria muito hipócrita se afirmasse que a hipocrisia, por vezes, não é um mal necessário... ou me desmintam, então, os avós, pais, professores, formadores de opinião e outros tantos. Aquela máxima do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”!!! De novo, quem nunca?
Todos nós, em algum momento, já nos “hospedamos” nos porões da hipocrisia...  o problema está naqueles que terminam gostando das acomodações e fazem destes porões o seu habitat natural...
E temos vários e variados exemplos em nosso dia a dia.
As religiões, do alto de sua hipocrisia, sacrificam e enganam  o povo, exigindo atitudes cristãs e doações – materiais e espirituais – dos crentes e fiéis... afinal, mesmo quem tem muito pouco, sempre terá (deverá ter) algo a dar para quem merece (com toda certeza – deles - mais que outros) andar em carros luxuosos e morar em apartamentos de 1.000 m² ou, então, aos que necessitam manter seus prédios, palácios, tronos e rituais cobertos do mais puro ouro ou prata... ainda que crucifixos e imagens em paredes e pedestais não resolvam muito a dura luta vivida pelos menos afortunados... santos de barro e gritos ao léu não vencem carnês e nem contratam desempregados... a fé é muito mais do que isso!
E temos a política, algo fundamental para a sobrevivência da sociedade como a vivenciamos hoje, sendo ela uma das formas mais perfeitas e legítimas que existem para que a humanidade alcance a igualdade, a fraternidade e todo aquele conjunto de coisas que todos mentem que buscam para o “coletivo”... Com toda a certeza, é um dos maiores ninhos da hipocrisia... e dela, não há como fugir...
Mas não poderia ser diferente, uma vez que estes dois grupos citados, nada mais são do que nosso povo representado e ratificado nos mais diferentes segmentos.
Esta semana, vimos uma jovem gremista ser crucificada pelo Brasil inteiro, por um erro que realmente cometeu... ocorre, que a grande maioria das pessoas que a perseguiram nas redes sociais, que a xingaram por onde cruzou, que apedrejaram sua casa, com certeza, já estiveram envolvidas em eventos e situações, talvez, muito mais graves: brigas em estádios, atitudes e piadas racistas e homofóbicas (longe de câmeras), desrespeito à deficientes, negros, brancos, mamelucos, cafusos e tudo mais... ou seja, a todos os tipos de minorias ou grupos considerados “desprivilegiados” na sociedade.
Tudo uma grande farsa arquitetada por oportunistas, marginais, gente sem noção, de má-fé e, principalmente, por uma mídia mais que hipócrita... uma mídia perigosa e sem escrúpulos...
E isso se repete na política, pois os mesmos indivíduos que usam boa parte do seu tempo para falarem mal de políticos (grande parte, com razão), no transcurso de sua vida pessoal, jogam lixo fora da lixeira, furam fila, sonegam impostos, não devolvem troco recebido a maior, “passam a perna” em colegas de serviço, criam grupos para se beneficiarem nos mais diferentes meios (e no meio nativista, por exemplo, só não vê quem não quer) e, fatalmente, também vendem o seu voto... e assim, um pouquinho da alma, também...
O hipócrita é um mentiroso contumaz, que inventa suas verdades baseadas em mentiras, passando a realmente acreditar nelas... tem várias máscaras, e as utiliza de acordo com suas necessidades.
Como combater esse mal? Não sei... mas, como grande parte das coisas que nos afetam e com as quais convivemos, acredito que seja uma batalha diária, que começa conosco... com cada um de nós buscando se utilizar cada vez menos desta artimanha, ou melhor, deste comportamento vergonhoso... ao diminuirmos minimamente o uso de nossa força hipócrita, sentiremos, com toda certeza, algumas boas mudanças acontecendo...
Eis a minha dose de hipocrisia de hoje, diretamente dos porões que também habito!

Caine Teixeira Garcia
Bagé/RS - 07/09/2014

Imagem do "imagens Google", internet.




terça-feira, 2 de setembro de 2014

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

ME ARRENEGUEI...


Me arreneguei... e “rasguei a poesia”!
Não era eu naquela folha...
...quiçá, meus sonhos... por entre as linhas.
Eu até tentei ser tudo aquilo,
mas, quando dei por mim, já não podia...

Não era eu naquele pingo
tosado bem a capricho...
Nem era meu aquele cusco
campeando a sombra do estrivo...
Não, definitivamente, não era eu!

Não me reconheci, bem enforquilhado...
E aquelas mãos, tão calejadas,
me causaram estranheza!
De pronto, o papel foi rasgado,
e a poesia, em pedaços – coitada
se esparramou sobre a mesa...

Naquele momento, entendi:
Não havia mais como prosseguir,
pois me pareceu que escrever
e criar cenas e cenários
sobre o que não mais hei de ser
seria simplesmente mentir...

Ainda que exista certa liberdade
Para os caminhos de um poema
seria faltar com a verdade
inventar, assim, uma realidade
que, com certeza, já não vivo...
embora a dor e a saudade
sobrevivam em minhas penas....

Aquele laço tão campeiro
- feito do melhor couro havido
e tão bem atado nos tentos
se desprendeu pelo espaço
só prá enlaçar sofrimentos...
Pois que abandone os "alfarrabos"
prá descansar – sem mais ser lembrado
no chão duro do esquecimento...

Escrever sobre um doze braças,
Que laça somente quimeras?
Cortar o rastro de um turuno
- destes “reiúno”, sem costeio
que só no verso atropela?
Como então, parar um rodeio
sem cruzar várzea e cancelas?
Se a vida planta negaceios
A alma colhe as mazelas...

Ah, este lugar em que moro
não é um rancho em sapê...
E fica aqui na cidade, aonde,
prá bem dizer a verdade,
quase não vejo o sol nascer...

Esporas, só numa parede...
Onde ousei deixar de enfeite
- a contragosto da mulher
Pois mesmo triste, é um deleite
Saber que um dia, fui “gente”
E soube sim, usar os “talher”...

Mas hoje eu me arreneguei...
E rasguei a poesia!
Querer, eu até não queria...
Mas, quando percebi,
Não mais teve jeito...
“Tava” feita a judiaria!

...quando saí do meu mundo
vendi uma pontinha de gado
que tinha, lá na Bolena...
Vendi gaiota e os aperos,
mas deixei meu cusco ovelheiro
junto com o zaino bragado...
Estes, ficaram prá meu pai!
Talvez, um quinhão de dor,
mas era prá ser um regalo
e não uma tristeza a mais...

Desde então, não há surpresas...
Não sei se vivo de saudade
- ou se morri no passado!
Sei que a vida não é a mesma...
O meu velho ficou arrasado
quando eu deixei lá fora,
toda a constância que há na ausência....
Ficaram, em minha querência,
Sesmarias de sonhos – e de dor...
E a minha própria alma em flor
sentenciada a viver presa!

Vivo a pintar matizes
Que não existem em minha vida
Pois só o preto e branco dos tempos
É que habitam os meus dias...

Não há ponchos pingando água
Nem mate gordo, frente ao fogão...
...há uma varanda, abrigando nada!
E nela, uma linda sacada..
Eternamente voltada
para as várias faces da solidão...

Não há um rio para cruzar tropas,
com valentia, a bolapé!
Há uma ponte - que o olhar me corta,
mostrando a vida, como ela é...
Um grande terço de penas
e algum resquício de fé!

O abajur não é um candeeiro
nem um luzeiro, prá quem retorna...
O meu cigarro, não é um palheiro
desses, bem buenos... da palha grossa...
Nem o lugar tem o aroma, o cheiro
que só o campo nos proporciona!
Eu que dormi, sob lua e cruzeiro,
Hoje, no frio urbano da cama
rumino vida e insônia...

Não, não era eu naquela folha.
Pode até que tenha sido...
Mas não mais, isso eu sei!
Por isso, me arreneguei
E rasguei o que havia escrito...

Eu pensei que ia voltar...
Mas não voltei!
Tinha coisas prá falar, mas...
Não falei!
Vivo a ausência de abraços
daqueles – e daquilo
que pouco ou nada abracei...

Lembro o olhar de minha mãezinha
Quando soube que eu queria
Estudar mais...e ser doutor!
Era um misto de alegria
Com uma tristeza daninha
Envolta em lágrimas de amor...

E seus conselhos foram tão sábios!
Parece que ainda vejo aqueles lábios
Me dizendo, com doçura,
permeada por firmeza:
- meu filho, segue o teu rumo
e ouve bem tua razão...
Só não esquece, que na vida
Dos motivos mais profundos
- e das coisas de mais valia
Quem sabe mesmo, é o coração...

...a mesma estrada que leva
tem em si, os caminhos da volta...

Mas não...não no meu caso...
Não para um teimoso!
Que um dia partiu, todo garboso
Prá principiar seu ocaso...

Enfim... e por fim,
rasguei mesmo a poesia...
e ao rasga-la, me fiz réu confesso!
Sempre fui eu no poema...
Um “eu” não realizado
De corpo e alma, cansados
De tanta vida vazia...

Eu sei que amanhã – novamente
Irei ficar frente a frente
Com a tão malvada poesia
- sangrando pena e papel...
Pois sendo ela imortal
Trás seu traço sem igual:
De renascer todo dia

Qual lua e sol - lá no céu...

Caine Teixeira Garcia

Imagens da internet (casa do poeta, senão me engano - Google) abaixo, link para declamação da poesia, com Jair Silveira e Gustavo Campos.

https://www.youtube.com/watch?v=DgAbh7tsmKo