ME ARRENEGUEI...
Me
arreneguei... e “rasguei a poesia”!
Não era
eu naquela folha...
...quiçá,
meus sonhos... por entre as linhas.
Eu até
tentei ser tudo aquilo,
mas,
quando dei por mim, já não podia...
Não era
eu naquele pingo
tosado
bem a capricho...
Nem era
meu aquele cusco
campeando
a sombra do estrivo...
Não,
definitivamente, não era eu!
Não me
reconheci, bem enforquilhado...
E aquelas
mãos, tão calejadas,
me
causaram estranheza!
De
pronto, o papel foi rasgado,
e a
poesia, em pedaços – coitada
se esparramou
sobre a mesa...
Naquele
momento, entendi:
Não
havia mais como prosseguir,
pois me
pareceu que escrever
e criar
cenas e cenários
sobre o
que não mais hei de ser
seria simplesmente
mentir...
Ainda
que exista certa liberdade
Para os
caminhos de um poema
seria faltar
com a verdade
inventar,
assim, uma realidade
que,
com certeza, já não vivo...
embora a
dor e a saudade
sobrevivam
em minhas penas....
Aquele
laço tão campeiro
- feito
do melhor couro havido
e tão bem
atado nos tentos
se
desprendeu pelo espaço
só prá
enlaçar sofrimentos...
Pois
que abandone os "alfarrabos"
prá
descansar – sem mais ser lembrado
no chão
duro do esquecimento...
Escrever
sobre um doze braças,
Que
laça somente quimeras?
Cortar
o rastro de um turuno
- destes
“reiúno”, sem costeio
que só
no verso atropela?
Como então,
parar um rodeio
sem cruzar
várzea e cancelas?
Se a
vida planta negaceios
A alma
colhe as mazelas...
Ah, este
lugar em que moro
não é
um rancho em sapê...
E fica
aqui na cidade, aonde,
prá bem
dizer a verdade,
quase
não vejo o sol nascer...
Esporas,
só numa parede...
Onde ousei
deixar de enfeite
- a
contragosto da mulher
Pois
mesmo triste, é um deleite
Saber
que um dia, fui “gente”
E soube
sim, usar os “talher”...
Mas
hoje eu me arreneguei...
E
rasguei a poesia!
Querer,
eu até não queria...
Mas,
quando percebi,
Não mais
teve jeito...
“Tava”
feita a judiaria!
...quando
saí do meu mundo
vendi
uma pontinha de gado
que
tinha, lá na Bolena...
Vendi gaiota
e os aperos,
mas deixei
meu cusco ovelheiro
junto
com o zaino bragado...
Estes,
ficaram prá meu pai!
Talvez,
um quinhão de dor,
mas era
prá ser um regalo
e não
uma tristeza a mais...
Desde
então, não há surpresas...
Não sei
se vivo de saudade
- ou se
morri no passado!
Sei que
a vida não é a mesma...
O meu
velho ficou arrasado
quando eu
deixei lá fora,
toda a
constância que há na ausência....
Ficaram,
em minha querência,
Sesmarias
de sonhos – e de dor...
E a
minha própria alma em flor
sentenciada
a viver presa!
Vivo a
pintar matizes
Que não
existem em minha vida
Pois só
o preto e branco dos tempos
É que habitam
os meus dias...
Não há
ponchos pingando água
Nem
mate gordo, frente ao fogão...
...há
uma varanda, abrigando nada!
E nela,
uma linda sacada..
Eternamente
voltada
para as
várias faces da solidão...
Não há
um rio para cruzar tropas,
com
valentia, a bolapé!
Há uma
ponte - que o olhar me corta,
mostrando
a vida, como ela é...
Um
grande terço de penas
e algum
resquício de fé!
O
abajur não é um candeeiro
nem um
luzeiro, prá quem retorna...
O meu
cigarro, não é um palheiro
desses,
bem buenos... da palha grossa...
Nem o lugar
tem o aroma, o cheiro
que só
o campo nos proporciona!
Eu que
dormi, sob lua e cruzeiro,
Hoje, no
frio urbano da cama
rumino
vida e insônia...
Não,
não era eu naquela folha.
Pode
até que tenha sido...
Mas não
mais, isso eu sei!
Por
isso, me arreneguei
E
rasguei o que havia escrito...
Eu
pensei que ia voltar...
Mas não
voltei!
Tinha
coisas prá falar, mas...
Não
falei!
Vivo a ausência
de abraços
daqueles
– e daquilo
que pouco
ou nada abracei...
Lembro
o olhar de minha mãezinha
Quando
soube que eu queria
Estudar
mais...e ser doutor!
Era um
misto de alegria
Com uma
tristeza daninha
Envolta
em lágrimas de amor...
E seus
conselhos foram tão sábios!
Parece
que ainda vejo aqueles lábios
Me
dizendo, com doçura,
permeada
por firmeza:
- meu
filho, segue o teu rumo
e ouve
bem tua razão...
Só não
esquece, que na vida
Dos
motivos mais profundos
- e das
coisas de mais valia
Quem
sabe mesmo, é o coração...
...a
mesma estrada que leva
tem em
si, os caminhos da volta...
Mas
não...não no meu caso...
Não
para um teimoso!
Que um
dia partiu, todo garboso
Prá
principiar seu ocaso...
Enfim...
e por fim,
rasguei
mesmo a poesia...
e ao
rasga-la, me fiz réu confesso!
Sempre
fui eu no poema...
Um “eu”
não realizado
De
corpo e alma, cansados
De
tanta vida vazia...
Eu sei
que amanhã – novamente
Irei ficar
frente a frente
Com a
tão malvada poesia
-
sangrando pena e papel...
Pois
sendo ela imortal
Trás
seu traço sem igual:
De
renascer todo dia
Qual
lua e sol - lá no céu...
Caine Teixeira Garcia
Imagens da internet (casa do poeta, senão me engano - Google) abaixo, link para declamação da poesia, com Jair Silveira e Gustavo Campos.
https://www.youtube.com/watch?v=DgAbh7tsmKo