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sexta-feira, 25 de agosto de 2017

A LENDA DO TRABALHO PERFEITO


Quem nunca ouviu ou leu a famosa frase do filósofo Confúcio, na qual ele dizia: "Escolha um trabalho que você ama e você nunca terá que trabalhar um dia sequer na vida” ?
É uma frase recorrente entre grandes palestrantes motivacionais, empreendedores e pessoas de sucesso. Além de recorrente, é uma frase verdadeira, inspiradora e que certamente, repetida à exaustão, já deve ter feito muita gente mudar de vida, ir em busca de seus objetivos e, não raro: quebrar a cara!
Sim, quebrar a cara, pois apesar de ser uma linda frase, plenamente aplicável e entendida por qualquer ser humano que possua um pouco de bom senso, INFELIZMENTE, ela não expressa uma regra do mundo real.
A vida adulta, a nossa vida real, é bem mais complexa do que essa “sentença” de Confúcio. Nem tudo depende de nossa força de vontade e de nossa capacidade de entrega. A vida impõe circunstâncias pesadas, percalços e questões pragmáticas que em grande parte das vezes, acabam por tolir nossas intenções e definições de rumos.
Afinal, quantas pessoas no mundo são capazes de escolher seu trabalho? Que condições a sociedade de hoje – e de sempre – dá às pessoas para que elas possam, efetivamente, trabalhar naquilo que gostam, desejam, com o qual possuem afinidade e, muitas vezes, vocação? Temos tempo, persistência e dinheiro para isso?
Ouço muito essa frase entre amigos, “adversários”, entre grandes pensadores e também entre aqueles que mal sabem o que estão dizendo, podendo ser considerada - sem nenhum exagero - como um “mantra motivacional”!
Mas devemos ter cuidado, pois esses “mantras” mal interpretados podem criar frustrações profundas, estresses desnecessários e, por certo, uma busca eterna por algo que não está dentro da nossa realidade em determinado momento, sendo, em muitas das vezes, de fato inalcançável, por força das circunstâncias.
A fase adulta, a família, as amizades, o cotidiano e a nossa sociedade requerem, primeiramente, RESPONSABILIDADE, COMPROMETIMENTO, DÍVIDAS PAGAS, CARNÊS EM DIA e CAPACIDADE DE SE AUTOSSUSTENTAR, com um mínimo de dignidade.
Todas as questões que envolvem nossa vida nesse sentido toleram nossas quimeras apenas por um certo tempo, pois a realidade cobra o preço de quem vive como eterno sonhador e insatisfeito.
Tenho amigos que são extremamente felizes com seus empregos, com seus trabalhos. Não sei ao certo se pelo fato de terem escolhido algo que lhes agradasse ou simplesmente porque nunca pararam para pensar nisso. Se o fizeram, talvez não considerem esse item tão importante assim. Contudo, tenho outros tantos amigos que são infelizes, praguejam o tempo inteiro contra seus empregadores e empresas onde trabalham. Entre uma cerveja e outra (pagas com o “soldo” de seus empregos), vociferam contra o local onde labutam e, consequentemente, contra sua vida infeliz, desvalorizando o próprio suor.
Esses últimos, ao fazerem dessas manifestações uma espécie de “regra cotidiana”, fecham os olhos e o coração para o fato de que NADA vai mudar em suas vidas com esse tipo de atitude. Pelo menos não para melhor.
Alguns dirão que esse é um texto pessimista, desmotivador. Prefiro entendê-lo como realista, apenas. Um lado mais duro, mas também alentador dessa moeda. Estar preparado para adversidades sempre me parece ser uma boa pedida.
Ao contrário de ser pessimista, estou aqui afirmando que é possível ser feliz sim, apesar dos pesares.
Com certeza é necessário que tenhamos bons objetivos, que almejemos o melhor sempre e que lutemos por aquilo que nos faz feliz e completo profissionalmente. Mas é preciso que tenhamos os pés no chão e que saibamos que existem muitas outras realizações que podem nos trazer um pedacinho do paraíso na terra: família, amigos, esporte no final de semana, uma boa cerveja, uma carne assada, um violão, algumas piadas, bons livros e qualquer viagem...
Se ainda não estamos trabalhando exatamente com o que pensamos ser nossa motivação e vocação profissional, que façamos dessa bênção que é o trabalho que temos uma mola propulsora para nossa evolução, progredindo sempre que possível e dando o nosso melhor. A sensação de dever cumprido e o comprometimento com aquilo que nos é confiado cria um círculo de bons momentos, de motivação natural, fazendo com que muitas coisas boas aconteçam. E isso pode, enfim, culminar com que talvez tenhamos conceituado como sucesso.
“Fazer do limão uma limonada” encaixa-se bem para todos aqueles que ainda não estão plenamente satisfeitos com suas atividades, com seu modo de pagar as contas, de existir profissionalmente.
Muitas pessoas passam praticamente uma vida inteira atrás de um objetivo profissional, e quando alcançam percebem que perderam todo o tempo que tinham em busca de algo que efetivamente não as completava. Se desfiguram pelo caminho, não percebem as paisagens, não usufruem das coisas boas.
O importante em nossa trajetória é que sejamos “GENTE”! Conseguir habitar esse mundo de forma digna já é uma grande vitória, não façamos pouco caso disso.
Persiga seus sonhos! Sempre que possível, mantenha “um olho no peixe e outro no gato”, pois todos merecemos o melhor, assim como a felicidade deve ser realmente um objetivo. Contudo, entenda que muitas vezes estamos infelizes com nossas vidas justamente por estarmos buscando uma felicidade que, via de regra, já nos habita, estando desde sempre ao nosso alcance.
Progrida, evolua, faça o que tu gostas, mas não crie regras demais, não seja exigente demais para ser feliz. Torne o lugar onde estás hoje em um ambiente agradável, aceite-se nele. Se estiveres transbordando, vá em busca de outro. Se estiveres diminuído, busque pelo reconhecimento, por algo melhor. Mas lembre-se sempre: o trabalho mais perfeito que existe, é aquele que nos confere mais dignidade, que nos permite pagar nossas contas, que nos deixa extenuado e até mesmo estressado, mas que nos garante um sorriso no rosto por estarmos honrando com seus compromissos, e provendo o que nos é necessário.
Não acredite em lendas hipócritas ou em contos de fadas, pois as que realmente valem a pena só existem na cabeça dos pais e dos avós, ou em livros e no cinema. Use o lado bom da filosofia. Trabalhe, respeite os seus, leia livros, assista a filmes e vá ser feliz, da melhor forma possível.  
A lenda do trabalho perfeito é uma mula sem cabeça que não existe... 


Imagem: Internet, desconheço o autor


quinta-feira, 17 de agosto de 2017

UM BRINDE À VIDA!!!

A morte é sempre um atropelo, é visita indesejada...
Não há quem a receba bem, ou que a espere de fato. Ainda que nas situações mais críticas seja ruminado o velho jargão "parou de sofrer", ninguém a deseja, nem no derradeiro momento...
Por mais elevado espiritualmente que possamos ser, penso que ninguém está realmente preparado para partir... e que nada consola realmente aos que ficam...
A morte é sempre indigesta, desapegada e o adeus que orquestra é, via de regra, alicerçado na dor, no sofrimento, na incerteza e na desesperança.
É uma senhora desaforada, desrespeitosa e não tem escrúpulos... não se comove com lágrimas. Nem mesmo o "todo poderoso" dinheiro pode impedir sua ação. Mais cedo ou mais tarde ela acaba se apresentando, levando o seu olhar obscuro e os seus desejos de fim até mesmo aos mais belos salões aristocráticos.
Por impiedosa, até se vende a uns trocados, mas não cumpre promessas, não garante retorno e destrói futuros. Brinca, em seu humor negro, mas não se envolve.
A morte é "veiaca", não observa razões... é doença sem vacina, é insensata e mordaz... Sendo o oposto da vida, às vezes me parece mais forte... todos sabem que ela é inarredável, até mesmo antes do nascimento.Vejam o quanto isso não é curioso e assustador!
Porém, uma coisa podemos - e devemos - afirmar: em seus critérios, ela é justa! Não respeita cargos, posses, fama ou coisas parecidas... possui as mesmas intenções para com todos, ou seja, arrebatar a vida!!
Só existe uma forma de vencê-la, de derrotar seu "espírito de porco": sobrevivendo além da vida, nos corações e na alma daqueles que nos querem bem, com nossa histórias, com nossos pensamentos, com nosso mundo peculiar e nosso jeito único de ser... ah, benditas sejam as lembranças e as memórias!
Pois é...resta ao menos a certeza de que a morte jamais terá o brilho de uma vida muito bem vivida...
Assim sendo, um brinde à vida!!! E que a morte, essa senhora desajeitada e maldosa da qual estávamos falando, pereça de inveja...