Quem nunca ouviu ou leu a famosa frase do filósofo Confúcio, na qual ele dizia:
"Escolha um trabalho que você ama e você nunca terá que trabalhar um dia
sequer na vida” ?
É uma frase recorrente entre
grandes palestrantes motivacionais, empreendedores e pessoas de sucesso. Além
de recorrente, é uma frase verdadeira, inspiradora e que certamente, repetida à
exaustão, já deve ter feito muita gente mudar de vida, ir em busca de seus
objetivos e, não raro: quebrar a cara!
Sim, quebrar a cara, pois apesar
de ser uma linda frase, plenamente aplicável e entendida por qualquer ser
humano que possua um pouco de bom senso, INFELIZMENTE, ela não expressa uma
regra do mundo real.
A vida adulta, a nossa vida real,
é bem mais complexa do que essa “sentença” de Confúcio. Nem tudo depende de
nossa força de vontade e de nossa capacidade de entrega. A vida impõe
circunstâncias pesadas, percalços e questões pragmáticas que em grande parte
das vezes, acabam por tolir nossas intenções e definições de rumos.
Afinal, quantas pessoas no mundo
são capazes de escolher seu trabalho? Que condições a sociedade de hoje – e de
sempre – dá às pessoas para que elas possam, efetivamente, trabalhar naquilo
que gostam, desejam, com o qual possuem afinidade e, muitas vezes, vocação?
Temos tempo, persistência e dinheiro para isso?
Ouço muito essa frase entre
amigos, “adversários”, entre grandes pensadores e também entre aqueles que mal
sabem o que estão dizendo, podendo ser considerada - sem nenhum exagero - como
um “mantra motivacional”!
Mas devemos ter cuidado, pois
esses “mantras” mal interpretados podem criar frustrações profundas, estresses
desnecessários e, por certo, uma busca eterna por algo que não está dentro da
nossa realidade em determinado momento, sendo, em muitas das vezes, de fato
inalcançável, por força das circunstâncias.
A fase adulta, a família, as
amizades, o cotidiano e a nossa sociedade requerem, primeiramente,
RESPONSABILIDADE, COMPROMETIMENTO, DÍVIDAS PAGAS, CARNÊS EM DIA e CAPACIDADE DE
SE AUTOSSUSTENTAR, com um mínimo de dignidade.
Todas as questões que envolvem
nossa vida nesse sentido toleram nossas quimeras apenas por um certo tempo,
pois a realidade cobra o preço de quem vive como eterno sonhador e
insatisfeito.
Tenho amigos que são extremamente
felizes com seus empregos, com seus trabalhos. Não sei ao certo se pelo fato de
terem escolhido algo que lhes agradasse ou simplesmente porque nunca pararam
para pensar nisso. Se o fizeram, talvez não considerem esse item tão importante
assim. Contudo, tenho outros tantos amigos que são infelizes, praguejam o tempo
inteiro contra seus empregadores e empresas onde trabalham. Entre uma cerveja e
outra (pagas com o “soldo” de seus empregos), vociferam contra o local onde
labutam e, consequentemente, contra sua vida infeliz, desvalorizando o próprio
suor.
Esses últimos, ao fazerem dessas
manifestações uma espécie de “regra cotidiana”, fecham os olhos e o coração
para o fato de que NADA vai mudar em suas vidas com esse tipo de atitude. Pelo
menos não para melhor.
Alguns dirão que esse é um texto
pessimista, desmotivador. Prefiro entendê-lo como realista, apenas. Um lado
mais duro, mas também alentador dessa moeda. Estar preparado para adversidades
sempre me parece ser uma boa pedida.
Ao contrário de ser pessimista,
estou aqui afirmando que é possível ser feliz sim, apesar dos pesares.
Com certeza é necessário que
tenhamos bons objetivos, que almejemos o melhor sempre e que lutemos por aquilo
que nos faz feliz e completo profissionalmente. Mas é preciso que tenhamos os
pés no chão e que saibamos que existem muitas outras realizações que podem nos
trazer um pedacinho do paraíso na terra: família, amigos, esporte no final de
semana, uma boa cerveja, uma carne assada, um violão, algumas piadas, bons
livros e qualquer viagem...
Se ainda não estamos trabalhando
exatamente com o que pensamos ser nossa motivação e vocação profissional, que
façamos dessa bênção que é o trabalho que temos uma mola propulsora para nossa
evolução, progredindo sempre que possível e dando o nosso melhor. A sensação de
dever cumprido e o comprometimento com aquilo que nos é confiado cria um
círculo de bons momentos, de motivação natural, fazendo com que muitas coisas
boas aconteçam. E isso pode, enfim, culminar com que talvez tenhamos
conceituado como sucesso.
“Fazer do limão uma limonada”
encaixa-se bem para todos aqueles que ainda não estão plenamente satisfeitos
com suas atividades, com seu modo de pagar as contas, de existir
profissionalmente.
Muitas pessoas passam
praticamente uma vida inteira atrás de um objetivo profissional, e quando
alcançam percebem que perderam todo o tempo que tinham em busca de algo que
efetivamente não as completava. Se desfiguram pelo caminho, não percebem as
paisagens, não usufruem das coisas boas.
O importante em nossa trajetória
é que sejamos “GENTE”! Conseguir habitar esse mundo de forma digna já é uma
grande vitória, não façamos pouco caso disso.
Persiga seus sonhos! Sempre que
possível, mantenha “um olho no peixe e outro no gato”, pois todos merecemos o
melhor, assim como a felicidade deve ser realmente um objetivo. Contudo,
entenda que muitas vezes estamos infelizes com nossas vidas justamente por
estarmos buscando uma felicidade que, via de regra, já nos habita, estando
desde sempre ao nosso alcance.
Progrida, evolua, faça o que tu
gostas, mas não crie regras demais, não seja exigente demais para ser feliz.
Torne o lugar onde estás hoje em um ambiente agradável, aceite-se nele. Se
estiveres transbordando, vá em busca de outro. Se estiveres diminuído, busque
pelo reconhecimento, por algo melhor. Mas lembre-se sempre: o trabalho mais
perfeito que existe, é aquele que nos confere mais dignidade, que nos permite
pagar nossas contas, que nos deixa extenuado e até mesmo estressado, mas que
nos garante um sorriso no rosto por estarmos honrando com seus compromissos, e
provendo o que nos é necessário.
Não acredite em lendas hipócritas
ou em contos de fadas, pois as que realmente valem a pena só existem na cabeça
dos pais e dos avós, ou em livros e no cinema. Use o lado bom da filosofia.
Trabalhe, respeite os seus, leia livros, assista a filmes e vá ser feliz, da
melhor forma possível.
A lenda do trabalho perfeito é
uma mula sem cabeça que não existe...
Imagem: Internet, desconheço o autor