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sexta-feira, 20 de julho de 2018

LIVROS RUINS



Sou daqueles que acreditava que valia a pena ler qualquer tipo de livro, até mesmo os ruins, porque entendia que eles sempre trariam algum aprendizado, alguma descoberta, algo de novo. Nesse caso, a definição “ruim” é muito pessoal, logicamente.
Aliás, já fiz muito isso, ler livros ruins. Porém, de uns anos para cá – acho que isso acontece com a maioria das pessoas – eu percebi que não tenho mais tempo a perder com eles.
A vida passa muito depressa para perdermos horas e dias com livros ruins. O custo-benefício é zero.
Antigamente eu tinha uma certa agonia, porque começava a ler um livro e lá pelo meio – ou bem antes – eu percebia que não havia gostado do conteúdo, do texto, da forma da escrita, da mensagem, enfim: percebia que o livro não era do meu agrado. Mas, como bom brasileiro – na época – eu “não desistia nunca”! Lia até o fim. Prolongava meu sofrimento. Desperdiçava meu tempo, na esperança de encontrar algo de bom na leitura.
Hoje não. Já mais tarimbado, mais vivido e mais decidido, eu escolho não ler os livros ruins. Livros ruins são uma total perda de tempo. Livros ruins são uma tortura desnecessária, m flagelo de escolha. Eu escolhi não me autoflagelar.
Parece bobagem, não é mesmo? Agora transfira esse raciocínio para os relacionamentos (amorosos, de amizade, de trabalho, etc). Certamente, a coisa fica mais séria.
Pessoas ruins não devem fazer parte de nossas vidas. Relacionamentos ruins não merecem nosso tempo. Mesmo com capas e títulos maravilhosos, um índice pomposo, uma introdução perfeita, pessoas e relacionamentos sempre se revelam. Seu conteúdo sempre vem à tona. Eu sei, é bem mais complicado do que lidar com livros. Às vezes é preciso “ler” um pouco mais, às vezes o conteúdo parece que vai ter um direcionamento e final mais promissores. Ler pessoas requer habilidade, e quanto mais maduro e experiente, mais habilidosos ficamos. Nossos erros passados também ajudam muito nesse caso.
Talvez não seja possível por de lado esses “livros ruins”, especialmente nas questões de trabalho, familiares, etc. Mas podemos apenas fazer de conta que eles estão lá, numa prateleira, da qual nunca os tiraremos para estudos mais aprofundados.
Pessoas ruins são nocivas. Eles merecem somente o pó do esquecimento. Nada de rasgar suas folhas, jogá-las fora, queimá-las em praça pública. É necessário apenas que as deixemos de lado, na estante do esquecimento, na biblioteca da indiferença. As traças do tempo farão seu trabalho com perfeição.
Por isso, um dos conselhos que eu dou hoje é esse: não perca tempo com livros ruins. E nem com nada ruim. Se estiver desconfortável, mude, troque, venda, ponha de lado, esqueça, vá adiante. Se não for possível nesse momento, trabalhe e se esforce para que seja possível logo. Livre-se desses fardos.
Se o filme estiver ruim no cinema, levante e vá passear na rua, tomar um sorvete, olhar as vitrines. O dinheiro que pagamos não vale o tempo perdido. Se o noticiário estiver ruim, troque de canal ou apague a televisão. Se a comida do restaurante não estiver boa, troque por um café. E sem fazer alarde. O tempo desperdiçado reclamando também é precioso. Nós podemos, sim, perder a elegância de vez em quando. Temos esse direito. Só não podemos fazer disso uma regra. Isso é exceção. O incômodo é exceção. A regra é ser feliz (tentarmos, pelo menos).
Não fazer absolutamente nada contra a nossa vontade é impossível. Vivemos em sociedade, somos seres humanos normais. Mas podemos impor limites a muitas coisas. Podemos nos colocar em primeiro lugar em várias situações. Podemos – e devemos - sim, privilegiar e valorizar mais nosso tempo.
Definitivamente eu não tenho tempo para livros ruins. “O Alquimista” em minha estante que o diga. Foram inúmeras tentativas de leitura sem sucesso. Deixei-o lá. Ganhei outros títulos da mesma lavra, com os quais também não logrei sucesso. Belas apresentações, material sedutor. Mas só isso. Estão inertes em seu canto.  Não os prejudico, nem eles me fazem mal. Ficamos assim. Perto, porém, distantes.
Eu tive a mesma atitude com inúmeras situações e pessoas que não agregavam em minha vida, cujos conteúdos não me conquistaram.
Algumas coisas podem realmente ser encantadoras para outros, mas nessa vida eu não tenho tempo para elas.
O que é bom não necessariamente vem acompanhado de pompa, de renome, de enfeite, de mídia, beleza, poder ou grandes autores. O que é bom para nós, simplesmente é.
Guarde seu tempo paras as coisas boas da vida. Priorize. É perfeitamente possível sabermos quais são, às vezes precisamos apenas de um pouco de coragem e atitude. Acredite, isso muda nossa vida para melhor.
Fuja dos livros ruins, dos filmes ruins, das comidas ruins, do papo ruim, das pessoas ruins. Sejamos a soma do que vimos, lemos e vivemos de melhor. Encontre-se com seu tempo. Desfrute dele. Sem culpas. Ele é o principal, e passa depressa demais. Isso eu garanto.

Caine Teixeira Garcia
Bagé, 20/07/2018

Imagem Google/Internet