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sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

O NATAL NÃO É PARA TODOS


Enquanto desse lado do mundo estamos pensando em que roupa usaremos no Natal e na virada de ano, muitos estão pensando em, quem sabe, apenas sobreviver até lá.
Enquanto buscamos, afoitos, por presentes que agradem aqueles que amamos, muitos rezam para encontrarem os seus por debaixo dos escombros deixados por guerras irracionais e sem sentido.
Enquanto pensamos se devemos perdoar erros bobos praticados por amigos e parentes, muitos se perguntam o que fizeram para merecerem tamanha judiação e desumanidade.
Enquanto não valorizamos o nascer do sol e não paramos um minuto sequer para presenciar o seu espetáculo durante os finais de tarde, muitos dariam tudo para que o único clarão que vissem fosse o do astro-rei, e não o de tiros e bombardeios cotidianos, dia após dia, noite após noite.
Enquanto sonegamos abraços, beijos e carinhos aos que nos são caros, muitos esperam, num resquício de esperança, uma única mão estendida que possa lhe tirar do caos e do sofrimento, ainda que seja de um completo estranho.
Enquanto praticamos nossos exercícios e dietas em busca de uma fugaz e efêmera beleza física, muitos literalmente morrem de fome. De sede. De frio. E também estão carentes de alimento espiritual. Habitam o inferno, sem que tenham feito nada para isso.
Enquanto buscamos e nos deleitamos com as carências de nossos próprios egos, o mundo que criamos engole - sem dó e nem piedade - os irmãos que renegamos.
Que mundo é esse?
É o mundo no qual vivemos!
Com certeza, o sentimento é de total impotência.
Mas eu sei que a dor do irmão agride e fere a muitos, assim como faz comigo.
Tudo que escrevermos sobre esses assuntos carregará sempre um grande percentual de hipocrisia (quem sabe até a sua totalidade o seja) pois estamos longe, muito longe das piores mazelas que a humanidade impõe aos povos mais sofridos de nossos tempos.
Mas quem sabe se ao escrevermos e falarmos mais sobre isso, se aos nos questionarmos e enfrentarmos mais esses tipos de horrores, não possamos causar uma corrente positiva que possa, enfim, sensibilizar e influenciar de maneira mais humana e sensata os verdadeiros responsáveis por tanta barbárie.
É impossível que tenhamos um Natal e um Ano Novo totalmente feliz , num momento em que tanta gente inocente sofre e morre, independentemente de serem crianças, velhos, homens ou mulheres.
Morrem simplesmente por terem nascido.
Sei que comemoraremos o Natal e o Ano Novo, ainda que saibamos dos sofrimentos de tantos irmãos...
Mas e o Natal de Aleppo? E o Natal na Nigéria, onde o Boko Haram pratica seus massacres?
Bom... isso sempre será um adaga enfiada em nosso peito,
cujo ferimento se tornará mais e mais profundo a cada minuto que passa, a cada presente que abrimos, a cada alegria que desfrutamos. Ignoraremos, mas ele estará sempre ali.
Se o Natal é mesmo somente uma data comercial, nem mesmo isso é possível para todos.
Para nós, os infortúnios e a dor impiedosa que assola nossos irmãos, por enquanto ainda é algo passível de ser escondido e suportado. Mas tenho certeza que, em algum momento, haveremos de pagar um preço por tanta omissão e insanidade.

#pelofimdasguerras #salvemAleppo #salvemaÁfrica #salvemahumanidade


segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

O MUNDO CHATO


Existe um mundo chato, que tem se apropriado de nossos dias. Nesse mundo surreal, tentam nos convencer que é pecado ser feliz, que é feio brincar, que é politicamente incorreto tirar onda dos amigos e adversários (no bom sentido).
Esse mundo chato se utiliza do mundo real, onde somos usurpados e achincalhados dia após dia, para afirmar que devemos abrir mão de momentos por vezes fugazes de felicidade, em prol de uma tristeza eterna. Como se já não tivéssemos motivos suficientes para estarmos tristes. Que bom que encontramos a felicidade e a alegria em coisas que permeiam essa mescla de mundo chato e mundo real. Torcermos para um time de futebol ou vibrarmos com disputas musicais, por exemplo, não nos torna cegos, incapazes ou submissos a nada. Pelo menos, não a maioria. Ao contrário, demonstra uma capacidade ímpar de buscar alegria e motivação apesar dos pesares. Isso não tira nossa índole para o bem e muito menos diminui nosso espírito de luta e nossa vontade viver mais e melhor. Queremos um mundo mais justo e humano, mas não é preciso que para isso abdiquemos de nossa capacidade plena de amar e nos entregar por aquilo que nos faz algum sentido, por bobo que possa parecer. Jogadores e cantores, novamente exemplificando, não são nossos grandes heróis e nem modelos de vida. Simplesmente são pessoas que despertam em nós o bom de nossas emoções, em 99% dos casos e situações. A ampla maioria das pessoas opta viver pelo bem e de forma digna. E só querem um pouco de paz e alegria. Usar o mundo real para colocar as pessoas dentro de um mundo chato, onde as regras são ridículas e diminuidoras de personalidades, de fato não é justo. Não é legal. Tampouco humano. Torcer é bacana. Vibrar é massa. Brincar, zoar, curtir, é da essência da felicidade. A hipocrisia não deve vencer o bom senso. O resto é mimimi de segunda.

Foto: mateus Bruxel / Agencia RBS