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quarta-feira, 11 de novembro de 2015
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
SILÊNCIOS DE BARRO E PEDRA
SILÊNCIOS DE BARRO E
PEDRA
Nestes
silêncios de barro e pedra
Pelos
"adentros" de mim, padeço...
Há na
incerteza, que vinga e medra
Talvez
a herança do que mereço!
...Teus
sinos calam, verdade e espera
Que são
a história, assim, do avesso...
Em teus
guardados, os memoriais
Contam
a senda dos ancestrais
Gritam o
passado, a cobrar seu preço...
Os caserios
desses joões-barreiros
-
Fortins erguidos com pena e suor
São
como os sonhos de tantos “guerreiros”
Que de
sua alma, deram o melhor...
Guardam
anseios, de quem primeiro
Fez
desta pampa, um lugar maior...
Pontas
de lanças e imagens tantas
São
testemunhas, nesta terra santa
De uma
luta insana, que semeou a dor...
Entre
os umbrais que te permeiam
Escuto
vozes... em tons de conselhos!
Pra o
índio incréu, meros devaneios
Mas eu sei
que a elas me assemelho...
Sou
como as almas, que aqui andejam
- Irmãs
antigas, deste chão vermelho!
Sempre
fui terra, entre várias vidas...
Ao
retornar agora, pra lamber feridas
Minhas
memórias, me põem de joelhos!
Ainda
marcado pelas circunstâncias
Eu
jamais vergo nestes descaminhos!
Peão
sem chão, não tenho estância
Nem sou
afeito a muitos carinhos...
Mas
guardo minha fé, nesta constância
De
buscar meu “eu” e mover moinhos...
Tenho a
firmeza das tuas paredes
Em tuas
entranhas, mato minha sede
Espírito livre, que retorna ao ninho!
Nestes
silêncios, de barro e pedra
O dia
cansa e, enfim, adormece...
E
quando de novo, ele encantar a lua
Talvez
o sol ainda me encontre em prece...
Respiro
a magia em tua fortaleza
Quantos
“Sepés”... e quantos avós!
Sei que
sou parte da tua natureza
Mesmo em
ruínas, não me sinto só...
Gritam
os de antes, não há voz presa
Hei de
orgulhar-me de voltar ao pó!
Nesta simbiose
entre homem e terra
Me
alimento do que em ti encerras
E o
coração já se desfaz dos nós...
Braços
me abraçam... vejo a cruz silente
Há sal
nos olhos, a nublar-me o olhar
Há o
tempo algoz, que não se ressente
Das
dores que trago... deste meu pesar
O solo
sangra, o Homem ainda mente
Sobre o
que os livros não irão contar...
Não há
limites para os sentimentos
Nem para
as razões que pateiam dentro
De quem
traz Missões no seu andejar...
Minh’
alma índia, rompeu as fronteiras
Buscando
a benção no chão guarani...
Linhagem
“gaucha”, estirpe guerreira
Alma de
campo, a liberdade em si!
Seguiu
o grito das vozes campeiras
E de
todo sagrado, que emana de ti!
Me fiz coragem
pra singrar querência
Atendi
apelos de minha consciência
Sei bem
quem sou e ao que sobrevivi!
Nestes
silêncios, de barro e pedra
Ecoam
missais - e minha oração
... sem
boleadeiras – mas pronto pra guerra
A esperança
me estendeu a mão
Quero
em teu barro, poder renascer
E em
tuas pedras, ter meu alicerce
Sei que
um novo tempo irá acontecer
Onde o
amanhã, ao ontem reconhece...
De
tanto ver a pampa amanhecer
Aprendi
que à noite, as dores recrudescem...
...mas sonho
caciques juntando-se a mim
Prá um
novo embate, que bem lá no fim
Reescreverá
meu Sul, como ele merece!
...
quem sabe os sinos, algum dia, à frente
Vão
além das vozes que ninguém traduz...
E
gritem à pampa, o que a tua semente
Deixou
de legado, aos olhos da Cruz
E de
novo dobrem, pela nossa gente
Que
ainda sonha um tempo de luz!
A todos
fascina este povo lendário
Que
bradou coragem pelos campanários
E que
ao próprio tempo, até hoje seduz...
Nestes
silêncios, de pedra e barro
Há um ritual
de entrega, onde me fortaleço
Vendo o
que prezo e que me é tão caro
Sei que
a justiça errou de endereço!
Ao
meu povo índio, hoje me agarro
E a ele
dedico minha reza em terço
Fecho
meus olhos – já não há rancor
Aceito a
“cruzada” sem nenhum temor
Deixo a
matéria e, enfim, adormeço!
Poema: Caine Teixeira Garcia
Amadrinhador: Zulmar Benitez
Intérprete: Jair Silveira
quarta-feira, 4 de novembro de 2015
A IMINENTE CATÁSTROFE CULTURAL
Todos sabem que sou um defensor dos CTG's, dos movimentos tradicionalistas, ainda que com várias ressalvas. Assim, reforçando essa ideia, afimo que a questão do "tu" e "você", embora pareça um assunto simplório, pode ser vista como um sinônimo de aculturamento. Esse me parece o motivo mais direto e impactante para o fato de que, cada vez menos, tenhamos gaúchos utilizando o "tu". Bobagem?Cito: Bagé, por exemplo, já foi uma cidade de grandes atividades tradicionalistas, com um CTG em cada canto, cada um deles com invernadas que iam da fase mirim até a xirua, com atividades diversas, onde se disseminava o "tu", em nosso dialeto tão próprio. E hoje? Bom, hoje pouco temos disso, cada vez menos temos essa convivência com nossa cultura e nosso linguajar antes soberano. As pessoas têm acesso às nossas coisas em segundo - ou terceiro - plano. Acabamos com as invernadas, com as domingueiras, com os churrascos em CTG's aos domingos, com os bailes pilchados. Ou seja, deixamos que a cultura externa viesse invadir nossa "praia". Sempre haverá discussão quanto a essa cultura "cetegeana", suas verdades, seus exageros e tudo mais. Mas o fato, é que nossas crianças e jovens são bombardeadas hoje em dia por uma enorme gama de culturas externas e alheias ao que estamos acostumados, que chegam via smartphones, computadores, iphones e sei lá mais o quê. Enquanto isso, não conseguimos construir atrativos suficientes para que eles possam aderir ao que é nosso, para que possam seguir cultuando algo que é lindo e que eu, particularmente, tenho orgulho de saber que é cria destes pagos. Então, na verdade, o "tu" talvez seja somente o começo. Do fim. Assim como o aquecimento global avisa sobre futuras catástrofes climáticas, o abandono do "tu" avisa sobre uma iminente catástrofe cultural.
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