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domingo, 31 de agosto de 2014

O IMPRESSIONANTE TONECO

Está cada vez mais recorrente o meu hábito de voltar às origens... ora em Ibaré, ora na Bolena... origens nem tão minhas, bem mais dos meus pais... mas, como digo a quem me conhece, minha alma parece estar nestes dois lugares, de uma forma inexorável...
Quando parto em direção a estes recantos, a alma vai leve, tem ânsia de chegar... quando retorno, trago sesmarias de saudades... do que vivi e, ainda, de tudo que não sei dizer ou expressar... enfim!
Desta feita - em Ibaré - entre outros grandes momentos, tive a oportunidade de charlar com o amigo Toneco. O homem é uma legenda: além de poeta (com poesias gravadas na mente, dispensando o papel ou a caneta), é repentista, declamador, contador de “causos” e muito mais!
Bastaram alguns “dedos de prosa” para que eu desenvolvesse, de pronto, uma grande simpatia e admiração por esta figura impressionante... desafiado a dizer alguns versos de sua lavra, não se fez de rogado: largou um atrás do outro, com a sua voz de interior... me senti enfeitiçado por aquela pessoa tão buerana e seus versos de palavras  simples e tão maravilhosas, carregadas de um humilde sotaque de Rio Grande, numa mescla encantadora de malícia - boa malícia - e inocência...
Lá no fundo daquele rincão, o Toneco está cheio de troféus conquistados ali pela redondeza, em festas de Semanas Farroupilhas e rodeios. Fez questão de mostrá-los e dar o histórico de cada um deles.
Sinceramente, me senti lisonjeado, agradecido, honrado... me recebeu em sua casa, mostrou-me a horta que cultiva com todo esmero e dividiu comigo um pouco de sua essência: verdade, vida e poesia...
Em tempos onde até mesmo a poesia parece ter um preço, foi realmente prazeroso me encontrar com alguém que faz aquilo pelo qual tenho grande paixão, de uma forma espontânea, gratuita, com amor, com verdade... me senti pequeno perto daquela figura, mas não diminuído... com certeza, aprendi mais um pouco sobre as coisas e, principalmente, me certifiquei do quanto é belo tudo aquilo que é puro, que é genuíno...
Ah, e o homem tem personalidade! Uma das poesias que fez sobre a cachorrada que anda solta lá pelas bandas de Ibaré deixou o pessoal da vizinhança bastante incomodado... mas ele, dum jeito bem pachola, me garantiu que não se incomoda... pelo contrário, resolveu fazer outros versos, sobre umas vacas que também andavam fazendo “desmandos” lá por aqueles pagos, “azucrinando” pelos corredores... segundo ele, tinha uma que, inclusive, abria o portão da casa dele e também a torneira, tomava água e, depois, com todo cuidado, fechava a “bica”... bom, mas esse tipo de história, eu conto outra hora.
Contudo, achei relevante compartilhar com os amigos essa felicidade por ter conhecido e proseado com alguém tão especial... tão diferente e, ao mesmo tempo, tão igual a mim...
Vidas distintas, anseios semelhantes...
Quiçá um dia, através de meus versos, eu possa tocar alguém de  uma forma tão especial quanto fui tocado pela poesia e pelo jeito de ser deste homem tão simples e tão impressionante...

Obrigado, Patrão Velho!!!

terça-feira, 26 de agosto de 2014

INSPIRAÇÃO DE LUA MINGUANTE...



A noite é um prolongamento
Do dia, que se desgarra...
Me agrada a lua em cimitarra
Que desafia céu e ventos!
Iluminando o firmamento
Num cortado de semblante
Na escuridão do horizonte,
Qual luzeiro que navega
Jamais deixa a pampa às cegas
Mesmo no quarto minguante...





(Caine T. Garcia - imagem www.google.com)

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

SOBRE A MORTE... DOS LIVROS!


Hoje em dia, vivendo em mundo totalmente tecnológico e “conectado”, não raro, me vejo preocupado com o futuro dos livros...  Tenho um filho adolescente e sinto na pele as mudanças que este mundo novo proporcionou: a casa possui prateleiras repletas de livros, de todos os gêneros e estilos, e eu noto que ele ainda lê pouco, quase nada... pelo menos, perto daquilo que eu considero ideal. Nesse caso, me permito dar um “desconto”, porque o meu “ideal” talvez não seja um bom balizador, afinal.
                Ao conversar com amigos, das mais variadas classes sociais, entendo como notório e inexorável o fato de que esta, é mesmo, uma tendência: o desinteresse pelos livros...
                Poucos jovens estão desenvolvendo o fascínio pela leitura... quando  leem, tem que ser algo que possa ser lido diretamente no computador, na internet... poucos, nessa nova geração, sentem – ou querem sentir – o prazer de abrir um livro novo e inalar aquele perfume maravilhoso que só as obras literárias possuem... acho que somente os mais antigos (e aqui eu me incluo) ainda alimentam aquela curiosidade de folhear os livros e perpassar todo o seu conteúdo com uma breve olhadela, imaginando até onde o texto irá levá-los...
E isso, com toda a certeza, é um problema grave! A consequência desta falta total de aptidão à leitura nos têm presenteado, cada vez mais, com textos preguiçosos, frases totalmente mal redigidas (sem nexo mesmo) e uma infinidade de cópias e plágios, ainda que inconscientes. A capacidade de raciocínio e de pensamento parece ser algo do passado.
Pesquisas e  trabalhos de aprofundamento, foram completamente abandonados... hoje em dia se usa o Google e a tal da Wikipédia que, invariavelmente, apresenta tentativas de homicídio à verdade, as vezes realmente consumando o fato.

As bibliotecas, que antes possuíam aquela aura de sede de conhecimento, aquele silêncio de sabedoria, hoje servem, quando muito, para um mero ponto de encontro ou de utilização de Wi-fi.
Quem escreve esses texto, não é alguém que seria hipócrita a ponto de querer dizer que todos deveriam ler as grandes obras do maiores escritores brasileiros e mundiais... não. Eu mesmo, nunca fiz isso. Aliás, possuo um gosto para a leitura que  talvez não seja considerado o mais recomendado.
Mas que seria bom que ao menos esses jovens de hoje lessem, que conseguissem desenvolver de alguma forma o apetite e a fome literária, ah, isso seria bom.
Parece que os colégios, as faculdades e os professores estão à mercê deste mundo novo, que já está ficando velho...
Por incrível que pareça, ninguém sabe ainda como lidar com essas transformações, e tal fato está “parindo”, de forma sistemática, uma juventude um tanto quanto alienada e deixando os verdadeiros professores e mestres, imersos em um mar de decepção... falo em “verdadeiros” porque nem todos podem ser assim considerados.
Enfim, com pesar, tenho lido as repetidas notícias que dão a entender que a morte dos livros, na forma convencional como os conheci - e que cultuo - é mera questão de tempo... em breve, talvez, somente os tenhamos em computadores, o que permitirá um “copiar”- “colar” muito eficiente.
Penso, sinceramente – e isso não serve de referência – que se trata, tão somente, de um trabalho intenso de massificação, de aculturamento, de empobrecimento intelectual e espiritual...
Me resta uma inconformável conformidade! Se isso acontecer ainda no meu tempo, viverei pelos sebos, empoeirando a matéria, mas abençoando a alma, evitando “Paulos Coelhos” e com muitas ânsias de Alcides Maya e afins... 
Desculpem algum erro, não tive tempo de conferir nada no Google...
Caine Teixeira Garcia
Bagé/RS – 25/08/2014




domingo, 17 de agosto de 2014

A morte é sempre um atropelo, é visita indesejada...
Ainda que seja ruminado o velho jargão "parou de sofrer", ninguém a deseja, nem no derradeiro momento...
Nada serve de consolo a quem parte, nada consola realmente aos que ficam...
É uma senhora desaforada, desrespeitosa e não tem escrúpulos... não se comove com lágrimas e o dinheiro até a retarda, mas não a impede... por impiedosa, se vende a uns trocados, mas não cumpre promessas, não garante retorno e destrói esperanças...
A morte é "veiaca", não observa razões... é doença sem vacina, é insensata e mordaz... Sendo o oposto da vida, às vezes me parece mais forte... todo mundo sabe que ela é inarredável, até mesmo para quem ainda não nasceu... isso não é mesmo curioso e assustador?
Mas uma coisa podemos afirmar: ela é justa! Não respeita cargos, posses, fama ou coisa parecida... seu critério é o mesmo para todos, ou seja, arrebatar a vida!!
A única maneira possível de deixá-la triste e abatida é sobrevivermos além da vida, nos corações e na alma daqueles que nos querem bem, com nossa histórias, com nossos pensamentos, com nosso mundo e nosso jeito de ser... ah, benditas sejam as lembranças e as memórias!
Pois é...resta ao menos a certeza de que a morte jamais terá o brilho de uma vida muito bem vivida...
Assim sendo, um brinde à vida!!! E que esta senhora desajeitada da qual estávamos falando, morra de inveja...

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Tem dias em que as noites parecem não ter fim...
...é quando o amanhecer se torna o nosso maior desejo...

Gavião


A noite e o antagonismo do espelho

Costumeiramente, tenho me olhado no espelho da noite... na calmaria da madrugada, no silêncio dos meus adentros. Definitivamente, não é fácil "estar consigo"... deveras, é uma jornada um tanto quanto ingrata. Ontem, foi uma destas noites “eternas”.
Beirando os quarenta anos, vejo que muitas das coisas pelas quais batalhei, briguei, magoei e fui magoado; no final das contas, talvez não tenham valido tanto a pena. É um mistério...Luto algumas batalhas "perdidas" até hoje... e, vergonhosamente, eu SEI disso. A bendita experiência, tão amaldiçoada pela juventude, tem mesmo razão em todos os seus cuidados, em todas as suas longevidades e certezas... o seu olhar carrancudo, ranzinza e cinzento, tem sim, a estranha mania de colorir e explicar situações futuras.
Mas considero a inexperiência um mal necessário, pois determinadas coisas não podem ser assimiladas com sermões, narrativas, castigos ou teorias. Devem ser sentidas na pele e, preferencialmente, na alma.
Divagando, percebo que mudei pouco de “ídolos”... ainda gosto muito, por exemplo, do Renato Russo. Canto todas as suas letras, que considero sempre muito atuais... ele, que era um ser extremamente contraditório – e talvez por isso, tão fascinante – disse sabiamente em “Tempo Perdido”: “...mas temos muito tempo, temos todo o tempo do mundo...” e, depois, em outro verso, antAGONIZOU: “...sempre em frente, não temos a tempo a perder!”
Me entristeço com a obviedade irrevogável de que já passei – em muito - da fase em que tinha “todo o tempo do mundo”... cada vez tenho mais carência de tempo, o tempo todo!
Em contraponto a isso, a fase dos “enta” parece que desacelerou um pouco meu ímpeto... embora eu ainda seja um sujeito um tanto quanto hiperativo, minha pressa já não é a mesma, a exigência para comigo – e para com os outros – também não...
Porém, ainda assim, eu creio que alguns minutos de qualidade tenham mais serventia – e sabor – do que algumas horas de intensa mediocridade. Essa é uma regra que parece valer para todas as situações, praticamente. A coisa é mesmo de pirar!
Os pensamentos não sonegam detalhes... quase quarentão, ainda gostaria de ter escrito algo como: “...na verdade nada, é uma palavra esperando tradução”. Talvez nem o próprio Humberto Gessinger tenha noção da genialidade dessa frase... ou, talvez, eu que esteja superestimando...mas isso, hoje em dia, já não importa... desde que me agrade!
Com esse raciocínio, percebo que praticamente sempre pensei assim... ou seja, talvez eu não tenha mudado tanto...nem piorado, nem melhorado, enquanto pessoa. Simplesmente tenha crescido, afinal, Peter Pan não existe... eu acho...
Essas escolhas que mantenho, não foram um fator impeditivo para que eu me aventurasse em outras coisas ou visitasse outros “mundos”...
Enfim, mirando o espelho da noite – e refletindo – me encontro com a certeza de que, inegavelmente, forjei minha personalidade... isso pode ser sorte ou azar. Para mim ou, para outros...quem sabe?
O fato é que ainda canto músicas do Renato Russo e do Humberto Gessinger Oficial, da Legião e do Engenheiros... e ainda tento ser uma pessoa correta. Por humano que sou, certamente tenho acumulado mais erros do que acertos.
Ainda não desisti de mim... mas nem mesmo a noite esconde o fato de que estou ficando mais calvo, com mais rugas e menos atraente, se é que já fui um dia. Há quem diga que também estou bem menos esperto...e disso, ouso discordar. Quase escuto uma voz dizendo que, no interior, estou bem mais bonito... mas é mentira, espelhos imaginários não falam!
Guardados os espelhos da noite, eu acordei o dia... e quando o sol veio matear, eu já cantarolava “Tempo Perdido”... sempre sabendo que preciso, ainda mais, de mais tempo.
E que me perdoe o Humberto, mas também escuto sertanejo, curto bastante o Roupa Nova e às vezes consigo até me divertir com o som da Anitta e do Michel Teló.
Tava na hora do trampo, parti ouvindo “Pampa no Walkman”... de bombacha!

DESAPEGAR


A palavra "desapegar" está na moda... hoje em dia, é quase um conselho vital, dado por muitos, a quase todos.
Às vezes, o desapego é necessário sim... mas jamais da boa música ou daquela cerveja gelada... do churrasco com os amigos de fé, ainda que sejam poucos... daquela superstição com a velha camisa já "rota" do time do coração, ou daqueles chinelos rigorosamente alinhados durante um grenal, como se eles fossem impedir uma derrota... do xingamento ao juiz "ladrão" e sua excelentíssima mãe... de um bom debate sobre politica ou religião (pois isso se discute, sim)...
É crime desapegar do violão desafinado e daquele "cantar" pior ainda... mais crime ainda, é desapegar da poesia!
Nem é preciso desapegar daquela mania de tirar fotos de paisagens, de animais, de tudo ou de nada... ainda que nem todos achem a fotografia a mais bonita do mundo...nem tampouco daquela pescaria improvisada com a família, onde o maior peixe não tem um palmo...
É obrigatório não desapegar de um bom livro, de um bom vinho junto a um fogo grande na lareira... ou no fogão à lenha... ou na cama, na companhia de quem se ama...
Seria triste desapegar de um "clássico" do cinema e perder aquele momento em que alguém começa a assistir o filme pela metade e perguntar detalhe por detalhe do que está acontecendo...
Não desapeguemos jamais das viagens... das que fazemos exteriormente e, principalmente, daquelas que fazemos em nosso interior...
Não desapeguemos dos "nossos"... do que é nosso... de nós!
Nem dos beijos, dos abraços... do carinho ou da indiferença... da raiva, do amor... da "guerra" ou da paz... do medo, da coragem... do orgulho ou da vergonha... do desejo, da frustração... da humildade ou da ambição... das virtudes, dos pecados... dos acertos e dos erros... da vitória, da derrota... da justiça ou da insensatez... das idas, dos retornos... da sapiência ou da ignorância... da certeza, da dúvida... da matéria ou do espírito... da luz, da escuridão... da descrença ou da fé... da vida...
Só da morte!
Enfim... desapeguemos, então... mas sempre, com muito cuidado... e, se possível, com muita precisão!