Está cada vez mais recorrente o meu hábito de voltar às
origens... ora em Ibaré, ora na Bolena... origens nem tão minhas, bem mais dos
meus pais... mas, como digo a quem me conhece, minha alma parece estar nestes
dois lugares, de uma forma inexorável...
Quando parto em direção a estes recantos, a alma vai leve,
tem ânsia de chegar... quando retorno, trago sesmarias de saudades... do que
vivi e, ainda, de tudo que não sei dizer ou expressar... enfim!
Desta feita - em Ibaré - entre outros grandes momentos, tive a
oportunidade de charlar com o amigo Toneco. O homem é uma legenda: além de poeta (com poesias gravadas na mente, dispensando o papel ou a caneta), é
repentista, declamador, contador de “causos” e muito mais!
Bastaram alguns “dedos de prosa” para que eu desenvolvesse,
de pronto, uma grande simpatia e admiração por esta figura impressionante... desafiado a dizer
alguns versos de sua lavra, não se fez de rogado: largou um atrás do outro, com
a sua voz de interior... me senti enfeitiçado por aquela pessoa tão buerana e
seus versos de palavras simples e tão
maravilhosas, carregadas de um humilde sotaque de Rio Grande, numa mescla encantadora de malícia - boa malícia - e inocência...
Lá no fundo daquele rincão, o Toneco está cheio de troféus
conquistados ali pela redondeza, em festas de Semanas Farroupilhas e rodeios. Fez
questão de mostrá-los e dar o histórico de cada um deles.
Sinceramente, me senti lisonjeado, agradecido, honrado... me
recebeu em sua casa, mostrou-me a horta que cultiva com todo esmero e dividiu
comigo um pouco de sua essência: verdade, vida e poesia...
Em tempos onde até mesmo a poesia parece ter um preço, foi realmente
prazeroso me encontrar com alguém que faz aquilo pelo qual tenho grande paixão,
de uma forma espontânea, gratuita, com amor, com verdade... me senti pequeno perto daquela figura, mas não diminuído... com certeza, aprendi mais um pouco sobre as coisas e, principalmente, me certifiquei do quanto é belo tudo aquilo que é puro, que é genuíno...
Ah, e o homem tem personalidade! Uma das poesias que fez sobre a
cachorrada que anda solta lá pelas bandas de Ibaré deixou o pessoal da vizinhança bastante
incomodado... mas ele, dum jeito bem pachola, me garantiu que não se
incomoda... pelo contrário, resolveu fazer outros versos, sobre umas vacas que também
andavam fazendo “desmandos” lá por aqueles pagos, “azucrinando” pelos
corredores... segundo ele, tinha uma que, inclusive, abria o portão da casa dele e também a torneira, tomava água e, depois, com todo cuidado, fechava a “bica”... bom,
mas esse tipo de história, eu conto outra hora.
Contudo, achei relevante compartilhar com os amigos essa felicidade por ter
conhecido e proseado com alguém tão especial... tão diferente e, ao mesmo
tempo, tão igual a mim...
Vidas distintas, anseios semelhantes...
Quiçá um dia, através de meus versos, eu possa tocar alguém
de uma forma tão especial quanto fui
tocado pela poesia e pelo jeito de ser deste homem tão simples e tão impressionante...
Obrigado, Patrão Velho!!!