VISITANTES

terça-feira, 18 de agosto de 2015

DESCULPE, MAS NÃO ESTAMOS COESOS



Tenho lido bastante a respeito da manifestação do Sr. Juarez Fonseca. Em alguns casos, tenho opinado no perfil dos amigos e conhecidos, quando vejo que tenho intimidade para tal. Minha última manifestação havia sido aqui mesmo, no blog.

Contudo, ao ler a manifestação do mestre Luiz Carlos Borges, referência musical dentro e fora do RS e do país e, em respeito ao fato de que não temos uma intimidade maior, gostaria de ponderar algumas coisas aqui, pelo meu cantinho mesmo.

Começo afirmando que, no meu entendimento, não estamos coesos. Aliás, acho que estamos longe disso, uma vez que coesão pressupõe uma certa ligação íntima, afinada, o que de fato não existe em nosso meio e seus vários segmentos.

"Assuntamos" sim, como bem disse o Borges, sobre o meio artístico-poético-musical, mas muito pouco. Quase nada. Sempre na superficialidade (no que se refere ao envolvimento de grandes grupos, ou questões realmente decisórias, que possam fazer alguma diferença). Uma prova disso que estou afirmando, é o surgimento do movimento “Tchê abraça Rio Grande”, que busca efetivamente um debate mais profundo sobre as questões que necessitam ser tratadas no meio e que insistentemente são deixadas de lado, exatamente pela falta de coesão, de alinhamento mínimo de rumos e estrada.

Estaríamos coesos se estivéssemos buscando soluções para melhorar a vida e o trabalho dos artistas que promovem nossa cultura, ao invés de termos que gastar tempo trocando ideias – e, em algum momento, até farpas – devido a um texto totalmente infeliz escrito por alguém que parece ter tirado o dia para achincalhar um movimento da maior importância para nossa cultura, nivelando por baixo centenas de artistas, inclusive aqueles que ora o estão defendendo.

A questão referente à coluna escrita pelo Sr. Juarez Fonseca não se trata de um debate, pelo menos não para a maioria das pessoas com as quais tenho conversado e outras tantas que me mandam e-mails, mensagens e torpedos a respeito do assunto, deveras indignadas e magoadas com o nível de abordagem e com o desprezo demonstrado pelo colunista no que se refere aquilo que produzimos no âmbito festivaleiro.

Talvez o posicionamento de Luiz Carlos Borges, devido ao peso cultural que ostenta e à envergadura de importância que tem para o nosso meio (meio século dedicado à música e mais de trinta registros fonográficos) possa aplacar e amainar as frustrações e desencantos que andam por aí, na boca e no pensamento de grande parte dos nossos artistas, em especial, aqueles que ainda não possuem uma carreira mais sólida, um reconhecimento maior, uma vez que muitos ficam, digamos, constrangidos de emitirem sua opinião, contrariando alguém de tamanha influência. Mas essa frustração e esse sentimento de desrespeito também reverbera entre os grandes da nossa cultura, e isso é certo. Não sou um destes maiores, bem longe disso, mas também não gosto que me pisem no pala, e já que todo mundo está no direito de dar sua opinião, eu entendo que o contraponto sempre é salutar e pode dar uma visão melhor sobre outros ângulos, que às vezes fogem ao umbigo do opinador.

Como bem escreveu o Borges, a questão de músicas boas ou ruins, não vem de agora. E sempre existirá. Isso acontece na exata proporção em que se aumentou a abertura de espaços (ainda que bem menos do que o necessário) e que a produção musical hoje realizada no Estado é infinitamente maior. O Robledo Martins bem lembrou em sua manifestação sobre o assunto: antigamente o interior não tinha estúdios, gravar uma música com um pouco de qualidade era um parto. Entrar nos festivais, então, concorrendo com o pessoal da capital, cuja estrutura era bem maior, era quase impossível. Mas as coisas mudaram. Os músicos do interior persistiram, aqueles que não ainda não eram consagrados persistiram, e hoje nos brindam com seus trabalhos, cujo crítico maior – e verdadeiro - é o ouvinte, o público.

Eu não conheço o conteúdo da tal “Carta de Uruguaiana”, mas com certeza a grande maioria dos músicos que iniciaram naquela época ou um pouco depois não se guiaram por ela, pelo que pude entender. Se assim fosse, talvez não tivéssemos hoje um Luiz Marenco, ou um César Oliveira e Rogério Melo, ou Jean Kirchoff, Anelise Severo, ou Sperandires, ou Nílton Júnior, ou Grupo Missões, ou Robledo Martins, ou Xirú Antunes, ou Severino Moreira, Rômulo Chaves, Juliano Moreno, Daniel Cavalheiro, Marcelo Oliveira, Nílton Ferreira ou tantos outros que eu poderia citar aqui (e desde já peço escusas por utilizar os nomes como exemplos, é somente a título de esclarecimento de minha “tese”), atuando no cenário poético-musical.

Ainda que o conteúdo da tal missa possa estar recheado de boas intenções, certamente elas são extremamente pessoais, revelando o posicionamento de um grupo específico, em detrimento do pensamento dos demais. Em detrimento a um contexto. E hoje, ignorando uma mudança de mais de trinta anos. Talvez aos olhos de outros, essa tal carta não passasse de uma maneira de firmar aquilo que chamamos rotineiramente de “panela”... será que não? Mesmo que inconscientemente?

Creio que seja uma questão de ponto de vista, afinal, pelo que me chega de informações e pelo tipo de “alerta” que dela se extraía, tal documento visava apenas ratificar uma certa maneira de compor, dizendo o que era ou não  bem visto, ou o que estava errado, o que era chato, o que era mal construído, fora dos padrões e conceitos daqueles que a escreveram. Ou seja, me parecer que tinha por objetivo bitolar e direcionar a produção poético-musical, muito mais do que orientar. Confesso que não tive oportunidade de ler essa “tábuas dos mandamentos dos festivais”

Não obstante, lembro novamente que alguns discos da Califórnia e outros festivais da época, apresentam músicas com qualidade muito, mas muito inferior dos que a que temos hoje nos palcos de festivais, mesmo naqueles de menor estrutura.

É, minha gente... no passado se fazia muita música podre, sim... e elas ganhavam festivais, também. Com os jurados da época... entendem?

Me causa estranheza, por exemplo,  fato de que grandes nomes do nosso meio não debatem em público as questões estruturais dos festivais, como a própria Califórnia, que deixou de ser um exemplo (vive sim, na memória cultural do Estado, tem todo um significado e importância) para ser uma vergonha, onde todo e qualquer tipo de absurdo acontece. Com depoimentos do pessoal da própria cidade, inclusive. E outros tantos problemas que temos de cunhos estruturais, financeiros e políticos.

Discordo também de Luiz Carlos Borges quanto à questão de “involução” na música do Sul. Isso não é verídico. O que temos hoje é mais produção, mais abertura, mais espaço (e digo de novo, pouco perto do que deveria existir), e isso naturalmente aumenta o número de músicas boas e ruins, faz oscilar a qualidade. Não é óbvio, isso? Isso não acontece com todos os artistas do cenário nacional e internacional? O que dizer então de um evento que, teoricamente, é aberto para o surgimento de novos talentos... as pessoas estão proibidas de tentar, então? Não há chance para o erro, para o estímulo, para o gosto particular e personalíssimo?

Se fosse pela cabeça de muitos dos antigos, dos de antes (aos quais todos devemos respeito e reverência pelo que fizeram até aqui, com certeza), não teríamos nunca novos talentos, uma vez que grande parte deles consolidou sua carreira e hoje vivem tratando de fechar cada vez mais seus grupos e acertos, buscando não dar espaço a ninguém que não lhes seja de afeto pessoal, ignorando a capacidade e o talento dos que hoje estão na batalha. Veja as contratações de shows para eventos oficiais e já matamos essa charada. Diga aí, o que tem de novo??? Como o novo pode surgir se o que temos é quase sempre, o de sempre? E de quem é a culpa?

Muitos destes que falo, inclusive, têm se dedicado mais à política e aos bastidores de televisões e eventos do que propriamente à uma produção que agregue algo para a cultura e para a classe artística.

Se alguém souber me dizer ou listar o que EFETIVAMENTE o Estado (em todos os governos) tem feito em prol da melhoria dos festivais e da qualidade de vida dos artistas, me corrija aqui. Só não vale falar em Editais da LIC, onde alguns produtores culturais e eventos ganham bem mais do que os artistas (salvo os privilegiados), porque essa coisa de LIC existe desde sempre. Estou falando em atuação, de interação, de levar o debate real ao nível de profundidade em que é preciso. De apresentar alternativas viáveis para que muitos artistas tenham outros espaços e outras oportunidades além dos palcos dos festivais e do que deles decorre.

Embora respeitando, afirmo que profundidade foi o que faltou, tanto na coluna do Sr. Juarez, quanto na manifestação desse grande gaiteiro do Rio Grande. Isso é fato.

Contudo, embora Luiz Carlos Borges seja um dos maiores músicos da história do nosso Estado, com larga estrada cultural, não posso fazer como muitos e me calar em um momento em que o nobre artista defende o tanto de bobagens e de ofensas que o Sr. Juarez Fonseca publicou, afrontando toda uma classe, ainda que muitos estejam, agora, fazendo vistas grossas. É preciso ser legítimo.

Veja que no rol de artistas que Borges citou como importantes, não houve menção a Noel Guarany, Jayme Caetano Braun, Luis Marenco, Joca Martins, Gujo Teixeira, e tantos outros que já citei anteriormente.

Será que minha visão está tão falha assim?

Ao meu ver, muitos dos problemas de separatismo que temos hoje na música do Rio Grande, têm sua origem em tipos de pensamentos como estes, alimentados pelo Sr. Juarez, lá atrás, e aos quais hoje, pra minha decepção (mas com respeito a opinião), Luiz Carlos Borges defende.

Vejam que são passados 35 anos e parece que as cabeças não mudaram. Então, quem está errado? Quem é que está imerso na mesmice? Quem é que está apostando na mesma fórmula de sempre?

É preciso que tenhamos autocrítica sim, sempre. Mas isso também é personalíssimo. Assim como também são os estilos e as maneiras de escrever e compor. É preciso respeitar e aceitar o fato de que hoje temos sim, manifestações plenamente afirmadas em nosso cenário cultural que não condizem, talvez, com aquilo que o Sr. Juarez (e os seus colegas produtores da tal carta) entenda como perfeito ou aceitável.

E lembro: ainda temos muitos dos “antigos” conosco, brilhando e encantando pelos palcos dos festivais, em todo o Rio Grande.

Não podemos aceitar críticas pessoalizadas ou direcionadas a uma classe inteira, ainda que em algum momento, alguns de nós estejam “por cima da carne seca”. Muitos podem até fingir que não, outros talvez não tenham o entendimento, mas o Sr. Juarez não poupou NINGUÉM, salvo aqueles que, na parte menos amarga do seu coração, ele guarde com o carinho que lhe seja possível demonstrar.

Mais do que isso, já disse em manifestações anteriores... e não vou tecer comentários sobre possíveis interesses escusos, porque seria muito gasto de energia.

É lamentável, sim...

MAS NÃO ESTAMOS COESOS, COM CERTEZA.


segunda-feira, 17 de agosto de 2015

JUAREZ FONSECA, ZH, RBS: QUEREMOS A RETRATAÇÃO!!!




A semana passada, para mim, estava sendo perfeita (dentro dos padrões normais), até o dia em que fui “encaminhado” à leitura de uma coluna escrita por um certo Juarez Fonseca, cujo conteúdo foi compartilhado por Vinícius Brum, atual Presidente do IGTF. Confesso que não entendi se o compartilhamento foi a título de dar conhecimento ou se foi realizado como um apoio ao que escreveu o tal Senhor.
Se foi pela segunda opção que citei, me caem todos os butiás dos bolsos... muito embora eu não deva ficar surpreso, tendo em vista o tanto que tenho me manifestado acerca do assunto e como entendo a atuação do Estado no que tange aos festivais. Em especial, à forma equivocada dessa atuação, no meu entender.
Embora já tenha feito uma postagem e alguns comentários no facebook sobre a opinião deste crítico da arte sulina, vou dar uma “esmiuçada” sobre o que ele escreveu.
O nobre crítico (me desculpem, mas minha memória falha quando ouço falar em seu nome, em detrimento à importância que ele próprio afirma ter no meio artístico e cultural) afirma ser um grande conhecedor do circuito dos festivais, tendo inclusive acompanhado o auge destes, que ocorreu nos anos 80. De lá para cá, segundo ele, as coisas ficaram estranhas... à partir daí, o colunista é ávido e contundente em avaliações depreciativas, que englobam eventos e artistas de uma maneira geral. Salvam-se as peles daqueles que ele julga como suprassumos da arte e que, segundo ele, ficaram em um passado distante. Cita o calendário do IGTF, pouco importando-se com a opinião que os participantes do meio têm sobre o tal instituto e mais, sobre a real importância que este instituto tem para os festivais. Só esse assunto já daria léguas de debate, indo muito além da mera superficialidade.
Ao decretar que no máximo dez festivais no Estado têm alguma relevância, demonstra mais do que desconhecimento: carimba seu desrespeito para com a nossa cultura, ignorando a importância que esses eventos têm para nossa formação social, cultural e econômica. Demonstra que não entende a complexidade cultural existente no Rio Grande do Sul, em especial no tocante às nossas características poético-musicais. Com um pouco de má-fé, talvez, lega ao esquecimento o envolvimento de comunidades inteiras ou grande parte delas com os festivais, pouco importando o “tamanho econômico” destes, mas sim o legado que eles deixam, ano após ano, perpetuando um movimento cuja magnitude ainda não foi compreendida por cidadãos como esse tal Juarez Fonseca.
Ao dizer que o número de músicas inscritas oscila entre 300, 500, já falha de novo, pois os grandes festivais têm um número muito mais elevado de inscrições. Cito isso, somente para demonstrar o nível de superficialidade e falta de conhecimento.
O crítico demonstra soberba e até um certo autoritarismo, ao evidenciar sua antipatia com a liberdade de criação e a livre inscrição, uma vez que chama os novos artistas, aqueles que estão tentando entrar no meio de “concorrentes sem experiência ou livre-atiradores em busca de evidência”. Eu até gostaria de saber como se faz para participar de um festival sem tentar. A obviedade de que alguém que hoje é renomado no meio, um dia foi inexperiente é tanta, que essa sentença do citado colunista beira o ridículo, cheira a ranço preconceituoso e “paneleiro”, pré-julgamento injusto e afetado por ignorância de espírito e de conhecimento. Ânsias de privilégios descabidos aos seus.
Ao falar tanto da Califórnia, poderia ter se demorado um pouco mais, e adentrado em alguns assuntos não muito agradáveis que por lá aconteceram, dos quais todo o meio é conhecedor, e que fazem com que esse festival, apesar da pompa e o espaço concedido pela mídia, seja não mais do que mera aparência nos últimos anos, não servindo de exemplo de conduta ilibada em quase nada. A referência técnica esmorece um pouco mediante o meio pela qual ela percorre em alguns casos. Isso é fato.
Embora eu ache que muita gente boa tem ficado de fora dos festivais, sou obrigado a discordar do colunista, quando ele afirma que “poucos novos se destacaram a partir dos anos 1990, imagine-se a que ponto chegou a questão da qualidade.” Os amigos imaginaram isso? São 25 anos em que ele joga uma pá de cal no que se refere ao surgimento de novos artistas, poetas, músicos, compositores. Um quarto de século perdido, então? Com certeza não, meus queridos amigos. Isso é somente mais um arroubo de prepotência, uma ânsia de dizer/escrever algo, de proteger ou engrandecer talvez alguns amigos de seu círculo íntimo. E da forma mais baixa que existe: desmerecendo os outros, jogando no lixo o trabalho de centenas de bons artistas ao longo de vinte e cinco anos. É uma pena ter que gastar tempo para evidenciar a obviedade da quase senilidade desse colunista.
Querer pisotear o sentimento atávico que existe no Rio Grande, a tentativa de perpetuar nossos costumes, nosso passado e nossa gente, bem como tentar aplacar a liberdade de criação com argumentos ou embasamento para tal é digno de pena, uma vez que o colunista se apega ao seu próprio saudosismo para justificar sua motivação de atacar o que vem sendo feito em termos de arte nos festivais. Talvez relembrando o  seu tempo moço, onde possa ter tido alguma relevância e importância para a cultura... contudo, talvez não tenha tido sucesso em sua cruzada de paladino dos festivais, tendo em vista que muito poucos se lembram dele,  e que alguns, inclusive, falam mal da sua pessoa. Isso está escrito nos depoimentos e comentários das nossas redes sociais, não é “achismo” de minha parte.
Aliás, acho que o colunista, talvez por encontrar-se meio ultrapassado em questões de tempo e espaço, tenha subestimado a questão das redes sociais hoje em dia. Já não é mais possível sentar-se atrás de uma mesa para escrever um monte de asneiras, que ofendam e agridam pessoas, e achar que isso passará despercebido. Mais grave ainda quando se ofende de forma covarde e irresponsável uma classe inteira.
Afinal, o que defende esse nobre colunista? Quais são os motivos de seu saudosismo? Por que essa incapacidade de olhar um pouco adiante do umbigo? Me parece simples motivação pessoal, nada mais.
Alheio ao fato de que “Guri”, “Tertúlia” e outras tantas músicas boas do nosso cancioneiro circularam por várias triagens, o colunista se esmera em oportunismo baratão, numa afirmação simplista onde diz que “há várias canções ruins que circulam de festival em festival apostando em descuido ou despreparo das comissões de triagem. E às vezes conseguem.” Que triste isso, que afirmação infeliz... Nesse parâmetro, ninguém presta... nem o compositor que roda em várias triagens, nem os jurados que aprovam músicas que foram deixadas de lado em outros festivais. Sendo que muitas destas, inclusive, acabam sagrando-se vencedoras ou premiadas nos eventos em que “emplacam”.
Deleitando-se no fel de sua arrogância, o colunista parece sofrer de uma hemorragia de maus adjetivos e impropérios a serem dirigidos única e exclusivamente àqueles que produzem música atualmente no Rio Grande (inclusive os seus amigos, uma vez que muitos dos de “antes” seguem na estrada), taxando-os de incompetentes, espezinhando as particularidades de seus gostos musicais e, de quebra, achincalhando com aquilo que chama de “Rio Grande de bombacha”. E um dos ápices de seus comentários “nada pessoais”, esse Sr. afirma que “Em vez de buscar uma canção melhor, o autor reaposta na própria ruindade.” Bárbaro...
Que forte isso. Quanta ignorância, quanta prepotência, quanto desconhecimento e quanto absurdo permitido pela Zero Hora por parte de um colunista que sequer conhece o chão sobre o qual está cuspindo.
Os festivais têm sim, produzido grandes clássicos, deles têm se originado grandes talentos e música muito, mas muito boa.
O colunista, parado no tempo em que estacionou seu umbigo, esqueceu que a maneira como a música se propaga hoje é diferente. Hoje, todos consumimos mais música e temos um acesso muito maior a tudo o que é feito no Rio Grande. Diferentemente do que acontecia anteriormente, onde apenas alguns festivais eram de conhecimento público. Hoje, é muito mais difícil uma música tornar-se um “clássico” na forma como colocamos essa palavra, uma vez que existe um número muito maior de produção artística, para todos os gostos, idades, conceitos e entendimentos. Mesmo com as falhas existentes no tocante à distribuição e divulgação do que é feito nos palcos dos festivais, o povo tem tido mais oportunidade de conhecer o que é feito no meio, já que praticamente TUDO é difundido pelas redes sociais, youtube e demais ferramentas da internet hoje em dia.
Digo mais: muito do que foi produzido anteriormente, talvez não vingasse hoje em dia. A coisa não mudou muito não, ainda mais se olharmos pela visão do tal Juarez Fonseca.
Sou conhecedor das produções antigas de festivais e sei que, num antigo “LP”, tínhamos umas duas ou três músicas boas e o restante mal dava para se ouvir... isso, logicamente, talvez só para o meu gosto.
Mas como a gente já sabe, o gosto é algo particular... querer impor o que achamos, pensamos e gostamos (ainda mais quando advém de qualidade duvidosa no entendimento de muitos) por meio de um espaço na mídia, pondo por terra a produção e o trabalho de pessoas que investem, se doam e até mesmo arriscam suas vidas em prol de manter nossa arte e nossa cultura não só é triste, como também é vergonhoso, ultrajante e, deveras, passa dos limites minimamente aceitáveis.
Vi pessoas do meio defendendo o colunista e inclusive dizendo que aqueles que não gostaram do que ele escreveu não poderiam pessoalizar o debate, que ele é culto, entendedor... para mim, tanto pior. Nessas horas, eu me pergunto em que mundo essas pessoas vivem. Quem pessoalizou o debate (em cada um dos que trabalham com poesia e música nativista, seja na forma que for) foi o colunista. Não há como ler tanta falta de respeito e ficar calado. Pelo menos, para quem não tem sangue de barata, ou não quer posar de "intelectual moderado e elegante".
Além disso, ao ser minimamente criticado, esse Sr. mostrou um desequilíbrio total e um desrespeito maior ainda, como já era de se esperar. É fácil ser pedra, difícil mesmo é ser vidraça.
Os festivais têm muitos, mas muitos problemas mesmo. A contribuição é maior, ao meu ver, quando debatemos estrutura, transparência, critérios, regras e participação do Estado nas atividades. Isso agrega, fortalece e faz as coisas avançarem. Muito embora o Estado pareça estar preocupado com outras coisas, que não os festivais. Fotos em eventos parecem ser mais aprazíveis e benéficas (não sei para quem) do que fomentar bons debates e efetivamente buscar soluções juntamente com municípios, entidades, produtores culturais e artistas envolvidos.
A qualidade, por si só, se manterá ou não. O povo e o tempo é que são capazes de afirmar o que veio para contribuir, o que soma e o que fica de legado. Um homem só, e rancoroso, ainda... duvido muito que seja capaz.
Na ânsia da autoafirmação, sobrou para Nico Fagundes, Paixão Cortes, Barbosa Lessa... é lamentável...
Me sinto envergonhado pela atitude desse Sr., que me parece ter motivos meio torpes para tecer tantos comentários infrutíferos, infundados e depreciativos contra aqueles que são colegas dos artistas sobre os quais ele aparente ter algum interesse comercial ou coisa do gênero.
Por atitudes como essas, pela abertura de espaços a esse tipo de gente, é que nossa cultura e nossa música ainda sofre tanto,  e encontra barreiras dentro de nossa própria aldeia.
Os artistas nunca foram e nunca serão a causa de possíveis insucessos dos festivais. Já, os oportunistas e irresponsáveis de plantão e os “mamadores de teta” dos cabides de emprego existentes e perpetuados pelos governos há séculos, estes sim. Análises que não saem da superficialidade são mero engodo tendencioso. Compreender os festivais em toda a sua complexidade vai muito além disso. A cultura como um todo, tocada por eles, nem se fala.
Da Zero-Hora, o mínimo que se espera é uma grande retratação, uma vez que a baixaria promovida por esse tal Juarez Fonseca atinge, inclusive, programas exibidos em sua grade de programação, onde grandes artistas oriundos do meio festivaleiro se apresentam, levando ao povo gaúcho nossa arte, nossa cultura e nossa tradição. Uma coisa é fazer a crítica, atuar como crítico, seja lá do que for. Outra, bem diferente, é atacar gratuitamente toda uma classe, de forma torpe e, para mim, covarde e injustificável.
Será que é esse o tipo de opinião que caracteriza a ZH? A RBS prima pela falta de bom senso, então? Dar espaço a rancorosos que buscam alguns minutos de atenção é sua prioridade?
Não fosse pelo que atinge e prejudica sua imagem de empresa gaúcha e identificada com o Rio Grande, a RBS/ZH deve exigir a retratação desse tal Juarez Fonseca por respeito e dignidade devidos aos nossos artistas e à nossa gente.
Enviarei este texto, por e-mail, ainda hoje.