Terminado o pleito de 2014, não
tenho dúvidas: esta eleição foi acachapante!!! Não pelo resultado em si, mas
pela forma como ocorreu.
Os brasileiros deram mais uma
oportunidade de governar a um partido quem mantém o poder em suas mãos há doze
anos, de forma ininterrupta. Isso até dá rima...
Cidadania e democracia também
rimam, mas atualmente só com utopia, talvez na poesia... que certamente, por
sua vez, rimará com melancolia, apatia, etc, etc...
Ainda que nossa democracia seja
considerada “jovem” pelos especialistas, entendo que ela goza de um privilégio
que outras mais antigas e plenamente consolidadas, não tiveram: o quase que
total acesso a informação, em tempo real e com diversas fontes para análise e
saneamento de dúvidas, além de uma interação quase que instantânea entre as
pessoas. Além disso, em épocas eleitorais, todo e qualquer candidato e governo
são minuciosamente examinados, analisados, investigados e, se for o caso,
trucidados em “praça pública”.
Portanto, com relação à parte da
população que possui – ou poderia possuir - este arsenal de informações, me
parece incabível argumentações do tipo “eu não sabia”, “eu não entendo”, “é
tudo mentira” (sempre) e coisas do gênero.
A impressão, ou melhor, a certeza
que eu tenho, é de que a população brasileira ainda não compreendeu a
importância da cidadania e vive uma democracia torta, que ela mesma cultiva com
ares de intelectualidade. O fato de 37 milhões de brasileiros não terem dado
sua contribuição nas urnas, parece fortalecer este meu entendimento.
Sou totalmente contra a
implementação do voto facultativo, por motivos cada vez mais óbvios. Se o povo
ainda não compreendeu a importância da política e as consequências de suas
escolhas, certamente não está apto a exercer o voto facultativo. Nesta tal
democracia “jovem”, a maioria dos eleitores são como um “menor”, cuja
capacidade ainda não foi alcançada ou, então, não é plena.
Caso o voto fosse facultativo, o
Brasil teria uma farra total (se já não tem) durante o dia da votação, com
“Coronéis” e “senhores feudais” impondo totalmente o voto pelo uso da força, da
coação, na troca pelo pão... e com um contraveneno totalmente enfraquecido, bem
como a “balança” democrática.
Portanto, se é ruim com o voto
obrigatório, bem pior sem ele.
Tendo em vista o resultado das
eleições para Presidente, me vem à cabeça um pensamento de Eça de Queiróz, que
dizia que “políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos, pelo
mesmo motivo”... se não me engano, é mais ou menos isso. E é uma grande
verdade. Independentemente de partidos e ideologias, sou favorável à oxigenação
na política, no poder... a alternância nos governos faz bem à democracia e à
sociedade como um todo. É extremamente salutar a adoção de novos pontos de
vista, de novas maneiras de pensar e agir. É preciso “sangue nos olhos” para
realizar grandes mudanças e fazer um país avançar. E a perpetuação no poder vai
em sentido contrário a tudo isso. Depois de doze anos com um mesmo partido
governando, me parece que isso é mais do que claro.
O poder corrompe e enfeitiça.
Cria a acomodação para o trabalho que deve ser feito e a proatividade em
relação a tudo o que não deve ser feito.
A longevidade no exercício de
comando de um mesmo partido ou grupo ideológico, via de regra, resulta em
desmandos. É o “sonho de consumo” dos governantes, que acabam por ter um tempo
precioso para estender suas garras em todas as ramificações e segmentos de
nossa sociedade, tornando-se praticamente imbatíveis. E isso é o avesso de uma
sonhada democracia e do que se pensa em termos de políticas sociais justas e
adequadas.
Um governo com muito poder, com
base aliada forte no Congresso Nacional, é um perigo. Sabendo gerenciar
conflitos, é capaz de aprovar quase tudo, ainda que isto não represente ou,
seque se assemelhe, ao desejo do povo.
Ainda ontem foi para aprovação na
Câmara dos Deputados um projeto que susta o famigerado Decreto “bolivariano”
8.243, de autoria do Executivo. Não fossem as mágoas recentes da própria base
aliada com relação ao Governo, onde parlamentares derrotados nas eleições
estaduais resolveram dar o troco pela falta de apoio recebida em suas
candidaturas, este projeto não teria sido aprovado. Assim, teríamos uma
aberração perigosíssima afrontando o exercício de nossos direitos de cidadão.
Como sempre digo, política é bem
mais do que se pode ver ou enxergar na superfície. E este é só um exemplo.
Outro momento perigoso e pelo
qual, possivelmente iremos passar (salvo um impeachment), tem a ver com o
Judiciário. Até o final de 2018, o partido que está no poder terá nomeado 10
dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Ainda que digam que não,
isso põe nossa justiça de joelhos com relação ao poder Executivo que, por sua
vez, se abastecerá ainda mais de sentimentos impróprios ao bem da Nação e que
terá materializado o seu sentimento crescente de impunidade.
Não podemos esquecer que o atual
Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é Dias Toffoli, que já foi
advogado particular de “estrelas” petistas e do próprio partido. Este é um
exemplo inequívoco da total falta de bom senso de um governante, que acha que
pode fazer o que quiser, da maneira que quiser e quando bem entender. Lembremos
que nem tudo que é legal veste-se de moralidade. A nomeação sem escrúpulos para
cargos públicos, sem critérios que não sejam político-partidários, em benefício
próprio ou de um grupo específico, vai contra todos os princípios morais e
éticos, ferindo profundamente o interesse público e a sociedade como um todo.
Isso ganha proporções gigantescas durante governos com longos períodos sem
alternância.
É exatamente disso que estou
falando. Saber as consequências de nossas escolhas políticas. Ou, pelo menos,
daquelas que têm maior repercussão em nossas vidas, ainda que num momento
futuro. Estas que citei, por exemplo, tem enormes repercussões. E que podem ser
devastadoras, do ponto de vista do equilíbrio social e da segurança jurídica.
Um governo poderoso pode “rasgar”
sua Constituição e enfraquecer as leis que não lhes interessa.
Dificilmente um governante
resiste ao desejo de ser tirano. Imagine então, que ele tenha todo o tempo do
mundo para realizar esse desejo. A carne é fraca, a mente é insana, o poder é
sedutor.
Será que hoje em dia é pedir
demais que pessoas esclarecidas entendam isso? Acho que não.
E o nosso povo? E os brasileiros?
Bom, os brasileiros parecem ter
parâmetros e juízos de valores completamente sem sentido. Utilizam estas
ferramentas da forma como lhes convém, sempre, isso lhes é habitual.
A reeleição concedida ao PT
mostra que a maioria dos brasileiros entende que aquela máxima do “rouba, mas
faz” é verdadeira e aplicável. E, convenhamos, neste caso, nem precisaram fazer
muito.
Ouvi muita gente culta, muito
“intelectual”, defendendo o indefensável. Nem vou falar aqui dos que foram
levados às urnas “de a cabresto”, pela compra oficializada de votos, porque
estes são, ao meu ver, os que menos têm
culpa.
Muitos arrotaram discursos que
pregam uma sociedade justa, mas com argumentos de benefício próprio. É assim.
Não conseguem enxergar um palmo adiante dos olhos – ou do próprio umbigo.
Não adiantou a Polícia Federal
gritar. Não adiantou o MP agir. Não adiantou o STF condenar. Não adiantaram
novas e verdadeiras denúncias de incansáveis e repetidos escândalos de rios
(não, rios não: mares!) de recursos e verbas públicas. Eles só viram denúncias
na Veja. E Veja “não vale”. Vejam só...
Cada um interpretou como quis.
Alheios às evidências, a grande maioria fechou os olhos e os ouvidos e cerrou
os lábios. Tudo para defender o seu ponto de vista, o seu ganho, o seu
idealismo, o seu benefício e, até mesmo, a sua idiotia.
E mais: vociferaram – e ainda o
fazem – contra quem “ousou” não seguir a onda do “País das Maravilhas”. Sabe,
aquele País lindo, da propaganda do PT?
Foram ignoradas centenas de
milhares de obras inacabadas, juntamente com o total descaso com a saúde, a
segurança e a educação no País.
Elegemos como nossos líderes,
pessoas quem têm bandidos como ídolos, condenados com sentença transitada em
julgado. E que também estão envoltas por um lamaçal profundo e horrendo de
podridão e desonestidade, para não dizer coisas piores.
Valeu difamar, mentir, apelar
para o sentimentalismo barato, quebrar todas as regras. Vale tudo pelo
“Príncipe”... ou “Princesa”.
Ninguém deu bola quando
Presidente e ex-Presidente subiram em palanques pregando separatismos, fazendo
apologia ao ódio entre as classes, diferenciando “ricos” de pobres... no
conceito deles, inclusive, eu também sou rico. Só não sei onde coloquei meu
dinheiro.
Ao contrário disso, seus fiéis
eleitores dizem que foi a oposição que fomentou o preconceito, o ódio e todas
as demais coisas ruins que ocorreram durante a campanha.
Não tendo mais motivos, até um
sorriso irônico do adversário tornou-se mais gravoso que a corrupção e a
“latrina política” sobre a qual tivemos conhecimento.
São muitos democratas de fachada.
O Foro de São Paulo não é nada. O importante é que o Porto de Cuba é lindo e a
transposição do São Francisco é um sonho. E o aeroporto de Cláudio é demais,
não dá... explicar Pasadena até vai,
explicar o financiamento da campanha do PT é plausível... mas esse
aeroporto, sobre o qual não existem processos ou não foi provado nada, não...
esse não dá para engolir. E o Aécio é muito burguês, afinal, quem não viu a
mulher dele? Aquela beleza é uma afronta aos pobres, às pessoas de bem.
Fala sério, meu Brasil.
Tenho por esperança que estas
urnas tenham sido fraudadas mesmo, pois motivos e denúncias levam a crer que
sim. Pensar nisso, até certo ponto me conforta, pois diminui minha descrença.
Não com o processo, mas com a população.
Dizem que bom cabrito não berra.
Não sou cabrito, mas me acho bom. E berro.
Como disse certa vez, George
Sand, “ a opinião política de um homem, é o próprio homem”. Isso tem muito de
verdade. Assim como entendo que um Governo, em grande parte, senão na sua totalidade,
é um reflexo de seu povo. Dizendo isso, não é preciso dizer muito mais sobre os
resultados desta eleição presidencial.
Muitos têm tentado abafar minha
indignação e desconformidade com este resultado, exaltando a ideia de respeito
a opinião dos outros, ao direitos dos outros, a liberdade dos outros. Mas e os
meus direitos? E a minha opinião? E a minha liberdade?
A história do “ame-o ou deixe-o”
é algo inaceitável.
Pois afirmo: hei de exercer minha
liberdade, hei de lutar por meus direitos, hei de dar minha opinião!
Pelo menos, enquanto o PT não
acabar com tudo isso... se isso acontecer, talvez eu me mude para Cuba. E quem sabe eu fique, caso já não existam diferenças...