A semana passada, para mim, estava sendo
perfeita (dentro dos padrões normais), até o dia em que fui “encaminhado” à
leitura de uma coluna escrita por um certo Juarez Fonseca, cujo conteúdo foi
compartilhado por Vinícius Brum, atual Presidente do IGTF. Confesso que não
entendi se o compartilhamento foi a título de dar conhecimento ou se foi realizado
como um apoio ao que escreveu o tal Senhor.
Se foi pela segunda opção que
citei, me caem todos os butiás dos bolsos... muito embora eu não deva ficar
surpreso, tendo em vista o tanto que tenho me manifestado acerca do assunto e
como entendo a atuação do Estado no que tange aos festivais. Em especial, à
forma equivocada dessa atuação, no meu entender.
Embora já tenha feito uma
postagem e alguns comentários no facebook sobre a opinião deste crítico da arte
sulina, vou dar uma “esmiuçada” sobre o que ele escreveu.
O nobre crítico (me desculpem,
mas minha memória falha quando ouço falar em seu nome, em detrimento à
importância que ele próprio afirma ter no meio artístico e cultural) afirma ser
um grande conhecedor do circuito dos festivais, tendo inclusive acompanhado o
auge destes, que ocorreu nos anos 80. De lá para cá, segundo ele, as coisas
ficaram estranhas... à partir daí, o colunista é ávido e contundente em
avaliações depreciativas, que englobam eventos e artistas de uma maneira geral.
Salvam-se as peles daqueles que ele julga como suprassumos da arte e que,
segundo ele, ficaram em um passado distante. Cita o calendário do IGTF, pouco
importando-se com a opinião que os participantes do meio têm sobre o tal instituto
e mais, sobre a real importância que este instituto tem para os festivais. Só
esse assunto já daria léguas de debate, indo muito além da mera
superficialidade.
Ao decretar que no máximo dez
festivais no Estado têm alguma relevância, demonstra mais do que
desconhecimento: carimba seu desrespeito para com a nossa cultura, ignorando a
importância que esses eventos têm para nossa formação social, cultural e
econômica. Demonstra que não entende a complexidade cultural existente no Rio
Grande do Sul, em especial no tocante às nossas características
poético-musicais. Com um pouco de má-fé, talvez, lega ao esquecimento o
envolvimento de comunidades inteiras ou grande parte delas com os festivais,
pouco importando o “tamanho econômico” destes, mas sim o legado que eles
deixam, ano após ano, perpetuando um movimento cuja magnitude ainda não foi
compreendida por cidadãos como esse tal Juarez Fonseca.
Ao dizer que o número de músicas
inscritas oscila entre 300, 500, já falha de novo, pois os grandes festivais
têm um número muito mais elevado de inscrições. Cito isso, somente para
demonstrar o nível de superficialidade e falta de conhecimento.
O crítico demonstra soberba e até
um certo autoritarismo, ao evidenciar sua antipatia com a liberdade de criação
e a livre inscrição, uma vez que chama os novos artistas, aqueles que estão
tentando entrar no meio de “concorrentes
sem experiência ou livre-atiradores em busca de evidência”. Eu até gostaria
de saber como se faz para participar de um festival sem tentar. A obviedade de
que alguém que hoje é renomado no meio, um dia foi inexperiente é tanta, que
essa sentença do citado colunista beira o ridículo, cheira a ranço
preconceituoso e “paneleiro”, pré-julgamento injusto e afetado por ignorância
de espírito e de conhecimento. Ânsias de privilégios descabidos aos seus.
Ao falar tanto da Califórnia,
poderia ter se demorado um pouco mais, e adentrado em alguns assuntos não muito
agradáveis que por lá aconteceram, dos quais todo o meio é conhecedor, e que
fazem com que esse festival, apesar da pompa e o espaço concedido pela mídia,
seja não mais do que mera aparência nos últimos anos, não servindo de exemplo
de conduta ilibada em quase nada. A referência técnica esmorece um pouco
mediante o meio pela qual ela percorre em alguns casos. Isso é fato.
Embora eu ache que muita gente
boa tem ficado de fora dos festivais, sou obrigado a discordar do colunista,
quando ele afirma que “poucos novos se
destacaram a partir dos anos 1990, imagine-se a que ponto chegou a questão da
qualidade.” Os amigos imaginaram isso? São 25 anos em que ele joga uma pá
de cal no que se refere ao surgimento de novos artistas, poetas, músicos,
compositores. Um quarto de século perdido, então? Com certeza não, meus
queridos amigos. Isso é somente mais um arroubo de prepotência, uma ânsia de
dizer/escrever algo, de proteger ou engrandecer talvez alguns amigos de seu
círculo íntimo. E da forma mais baixa que existe: desmerecendo os outros,
jogando no lixo o trabalho de centenas de bons artistas ao longo de vinte e cinco
anos. É uma pena ter que gastar tempo para evidenciar a obviedade da quase
senilidade desse colunista.
Querer pisotear o sentimento
atávico que existe no Rio Grande, a tentativa de perpetuar nossos costumes,
nosso passado e nossa gente, bem como tentar aplacar a liberdade de criação com
argumentos ou embasamento para tal é digno de pena, uma vez que o colunista se
apega ao seu próprio saudosismo para justificar sua motivação de atacar o que
vem sendo feito em termos de arte nos festivais. Talvez relembrando o seu tempo moço, onde possa ter tido alguma
relevância e importância para a cultura... contudo, talvez não tenha tido sucesso
em sua cruzada de paladino dos festivais, tendo em vista que muito poucos se
lembram dele, e que alguns, inclusive,
falam mal da sua pessoa. Isso está escrito nos depoimentos e comentários das
nossas redes sociais, não é “achismo” de minha parte.
Aliás, acho que o colunista,
talvez por encontrar-se meio ultrapassado em questões de tempo e espaço, tenha
subestimado a questão das redes sociais hoje em dia. Já não é mais possível
sentar-se atrás de uma mesa para escrever um monte de asneiras, que ofendam e
agridam pessoas, e achar que isso passará despercebido. Mais grave ainda quando
se ofende de forma covarde e irresponsável uma classe inteira.
Afinal, o que defende esse nobre
colunista? Quais são os motivos de seu saudosismo? Por que essa incapacidade de
olhar um pouco adiante do umbigo? Me parece simples motivação pessoal, nada
mais.
Alheio ao fato de que “Guri”, “Tertúlia”
e outras tantas músicas boas do nosso cancioneiro circularam por várias
triagens, o colunista se esmera em oportunismo baratão, numa afirmação
simplista onde diz que “há várias canções
ruins que circulam de festival em festival apostando em descuido ou despreparo
das comissões de triagem. E às vezes conseguem.” Que triste isso, que
afirmação infeliz... Nesse parâmetro, ninguém presta... nem o compositor que
roda em várias triagens, nem os jurados que aprovam músicas que foram deixadas
de lado em outros festivais. Sendo que muitas destas, inclusive, acabam
sagrando-se vencedoras ou premiadas nos eventos em que “emplacam”.
Deleitando-se no fel de sua arrogância,
o colunista parece sofrer de uma hemorragia de maus adjetivos e impropérios a
serem dirigidos única e exclusivamente àqueles que produzem música atualmente no
Rio Grande (inclusive os seus amigos, uma vez que muitos dos de “antes” seguem
na estrada), taxando-os de incompetentes, espezinhando as particularidades de
seus gostos musicais e, de quebra, achincalhando com aquilo que chama de “Rio
Grande de bombacha”. E um dos ápices de seus comentários “nada pessoais”, esse
Sr. afirma que “Em vez de buscar uma
canção melhor, o autor reaposta na própria ruindade.” Bárbaro...
Que forte isso. Quanta
ignorância, quanta prepotência, quanto desconhecimento e quanto absurdo
permitido pela Zero Hora por parte de um colunista que sequer conhece o chão
sobre o qual está cuspindo.
Os festivais têm sim, produzido
grandes clássicos, deles têm se originado grandes talentos e música muito, mas
muito boa.
O colunista, parado no tempo em
que estacionou seu umbigo, esqueceu que a maneira como a música se propaga hoje
é diferente. Hoje, todos consumimos mais música e temos um acesso muito maior a
tudo o que é feito no Rio Grande. Diferentemente do que acontecia
anteriormente, onde apenas alguns festivais eram de conhecimento público. Hoje,
é muito mais difícil uma música tornar-se um “clássico” na forma como colocamos
essa palavra, uma vez que existe um número muito maior de produção artística,
para todos os gostos, idades, conceitos e entendimentos. Mesmo com as falhas
existentes no tocante à distribuição e divulgação do que é feito nos palcos dos
festivais, o povo tem tido mais oportunidade de conhecer o que é feito no meio,
já que praticamente TUDO é difundido pelas redes sociais, youtube e demais
ferramentas da internet hoje em dia.
Digo mais: muito do que foi
produzido anteriormente, talvez não vingasse hoje em dia. A coisa não mudou
muito não, ainda mais se olharmos pela visão do tal Juarez Fonseca.
Sou conhecedor das produções
antigas de festivais e sei que, num antigo “LP”, tínhamos umas duas ou três
músicas boas e o restante mal dava para se ouvir... isso, logicamente, talvez só para o
meu gosto.
Mas como a gente já sabe, o gosto
é algo particular... querer impor o que achamos, pensamos e gostamos (ainda mais quando advém de
qualidade duvidosa no entendimento de muitos) por meio de um espaço na mídia,
pondo por terra a produção e o trabalho de pessoas que investem, se doam e até
mesmo arriscam suas vidas em prol de manter nossa arte e nossa cultura não só é
triste, como também é vergonhoso, ultrajante e, deveras, passa dos limites minimamente aceitáveis.
Vi pessoas do meio defendendo o
colunista e inclusive dizendo que aqueles que não gostaram do que ele escreveu
não poderiam pessoalizar o debate, que ele é culto, entendedor... para mim, tanto pior. Nessas horas, eu me pergunto em que mundo essas pessoas
vivem. Quem pessoalizou o debate (em cada um dos que trabalham com poesia e
música nativista, seja na forma que for) foi o colunista. Não há como ler tanta
falta de respeito e ficar calado. Pelo menos, para quem não tem sangue de barata, ou não quer posar de "intelectual moderado e elegante".
Além disso, ao ser minimamente
criticado, esse Sr. mostrou um desequilíbrio total e um desrespeito maior
ainda, como já era de se esperar. É fácil ser pedra, difícil mesmo é ser vidraça.
Os festivais têm muitos, mas
muitos problemas mesmo. A contribuição é maior, ao meu ver, quando debatemos
estrutura, transparência, critérios, regras e participação do Estado nas
atividades. Isso agrega, fortalece e faz as coisas avançarem. Muito embora o
Estado pareça estar preocupado com outras coisas, que não os festivais. Fotos
em eventos parecem ser mais aprazíveis e benéficas (não sei para quem) do que
fomentar bons debates e efetivamente buscar soluções juntamente com municípios,
entidades, produtores culturais e artistas envolvidos.
A qualidade, por si só, se manterá
ou não. O povo e o tempo é que são capazes de afirmar o que veio para
contribuir, o que soma e o que fica de legado. Um homem só, e rancoroso,
ainda... duvido muito que seja capaz.
Na ânsia da autoafirmação, sobrou
para Nico Fagundes, Paixão Cortes, Barbosa Lessa... é lamentável...
Me sinto envergonhado pela
atitude desse Sr., que me parece ter motivos meio torpes para tecer tantos
comentários infrutíferos, infundados e depreciativos contra aqueles que são
colegas dos artistas sobre os quais ele aparente ter algum interesse comercial
ou coisa do gênero.
Por atitudes como essas, pela
abertura de espaços a esse tipo de gente, é que nossa cultura e nossa música
ainda sofre tanto, e encontra barreiras
dentro de nossa própria aldeia.
Os artistas nunca foram e nunca
serão a causa de possíveis insucessos dos festivais. Já, os oportunistas e
irresponsáveis de plantão e os “mamadores de teta” dos cabides de emprego
existentes e perpetuados pelos governos há séculos, estes sim. Análises que não saem da superficialidade são mero engodo tendencioso. Compreender os festivais em toda a sua complexidade vai muito além disso. A cultura como um todo, tocada por eles, nem se fala.
Da Zero-Hora, o mínimo que se
espera é uma grande retratação, uma vez que a baixaria promovida por esse tal
Juarez Fonseca atinge, inclusive, programas exibidos em sua grade de
programação, onde grandes artistas oriundos do meio festivaleiro se apresentam,
levando ao povo gaúcho nossa arte, nossa cultura e nossa tradição. Uma coisa é
fazer a crítica, atuar como crítico, seja lá do que for. Outra, bem diferente,
é atacar gratuitamente toda uma classe, de forma torpe e, para mim, covarde e
injustificável.
Será que é esse o tipo de opinião
que caracteriza a ZH? A RBS prima pela falta de bom senso, então? Dar espaço a rancorosos que buscam alguns minutos de atenção é sua prioridade?
Não fosse pelo que atinge e prejudica sua
imagem de empresa gaúcha e identificada com o Rio Grande, a RBS/ZH deve exigir a retratação desse tal Juarez Fonseca por respeito e dignidade
devidos aos nossos artistas e à nossa gente.
Enviarei este texto, por e-mail,
ainda hoje.
FICO FELIZ DEMAIS QUANDO ALGUÉM SE LEVANTA CONTRA ESTAS ATROCIDADES NOS FESTIVAIS E MÚSICAS SULINAS. TE APOIO E HÁ 10 ANOS FALAVA SOZINHA, HOJE SEI QUE TEM VC QUE PELEJA COMIGO. PARABÉ4NS
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