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sexta-feira, 29 de maio de 2015

O CÉU DOS ARTISTAS



O artista, de um modo geral e de uma forma praticamente imposta – e quase cotidiana – está sempre mais à mercê do destino, da “sorte”, do acaso...
Talvez, por ter o privilégio de possuir algum dom em especial, me parece que também está mais na “mão” de Deus, sendo mais dependente dos cuidados divinos. Uma espécie de compensação? Não sei...
O artista não se governa muito... como dizem, vai onde o povo está.
Sua vida é a arte, almejada e realizada nos rumos das estradas infindas, trilhadas na perseverança e na abnegação. Alimentada pelo sonho e pela vocação. Encontrada e compartilhada em cada confim de rincão, tendo por objetivo maior a paz, a harmonia e a felicidade, sua e dos seus iguais. Realizada única e exclusivamente por meio de seu talento!
Grande parte destes irmãos faz sua passagem para outras instâncias de uma forma aparentemente normal. Nos deixam por questões inerentes a soma dos anos, devido às intempéries do tempo, ou contratempos não tão inesperados. Entretanto, sempre nos reservam a dor, os questionamentos, o coração apertado, o luto compulsório. A morte sempre é um evento traumático, independentemente das circunstâncias.
A alguns é dado o benefício da lembrança, do reconhecimento, da dignidade a sua memória. A outros, nem tanto. Contudo, para o bem ou para o mal, estas questões podem ser consideradas até certo ponto como naturais, acontecendo dentro de uma certa normalidade ou previsibilidade.
Mas nem sempre ocorre assim.
Ao cumprir tão nobre missão, muitas vezes o artista tem seu futuro decidido numa curva sinuosa, numa pista molhada, num dia de sol com olhar de preguiça... numa noite enluarada com cismas de sono, num amanhecer imponente, que fustiga os olhos... ou num animal que circula, na interferência do seu habitat... até mesmo numa chamada ingênua ao telefone, que culmina em um tom decisivo... ou no hábito de um descuido que não foi tão trivial.
E aí, tudo acaba neste tempo. Tudo finda neste plano. Para o artista e paras os seus.
Silencia o instrumento, permanece em branco a folha, cala-se a voz.  Parte a matéria...
E ainda que saibamos que se trata tão somente de matéria, a dor e o vazio, a partir deste momento, são presenças constantes.   O tempo ameniza, mas jamais supera a ausência.
Fica a história, permanecem a obra e o legado, faz-se perene a saudade!
Ainda não sei se Deus cochila intencionalmente nestas horas ou se ele também é vítima disso tudo...
Mas afinal, o universo conspira a favor de quem?
Por vezes, o céu dos artistas é exigente demais. Faz questão de ter os buenos consigo. Não se programa, não dá aviso, não é flexível. É difícil perdoá-lo.

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