“Tanto
faz” é uma expressão de morte. Ou da proximidade dela. Mas não aquele “tanto
faz” leve, despretensioso, pra “agilizar”, por vezes até carinhoso e afetuoso. Me refiro ao “tanto faz” mais
profundo, mais significativo. Aquele que sai do coração, da alma, do
cansaço mental, psicológico. Aquele que carrega consigo toda uma carga de
decepção, de mazelas, de falta de consideração, de desinteresse, de mágoas ou
coisas do tipo.
Definitivamente,
o “tanto faz” é uma sentença. Ou é o
início do fim ou é o próprio fim. É um sentimento e também a sua falta.
Quando
se decreta o “tanto faz” de uma forma recorrente para situações de
relacionamento, é porque algo não vai bem. Seja no amor, na amizade ou na simples
parceria. É um sintoma fatal de que a importância já não é a mesma, que o zelo
e o cuidado já não fazem parte do cotidiano, tampouco são preferenciais.
Quando
alguém recebe um “tanto faz” como resposta para situações de relacionamento, de
uma forma habitual, deve ficar atento. Isso é um forte indício de que, talvez,
essa pessoa já não seja mais prioridade para a outra.
Qual
o motivo do “tanto faz”? Quando ele surge, e porque ele começa a fazer parte de
nossas vidas? Difícil saber. Mas sua ocorrência não é rara, e isso é fato. Certamente, isso deve ser analisado mediante todo um
contexto, para que se chegue a uma conclusão ao menos próxima da realidade.
Descuido, desleixo, desamor, rotina, desconfiança, enfim... várias podem ser as
causas.
Não
saberia dizer se há como reverter o cenário do “tanto faz”. Até acredito que sim.
Contudo, creio que exista uma pergunta a ser feita no caminho: vale a pena? Se o tanto faz surgiu, é porque houve
desgaste, houve quebra, há um rompimento em pauta. Alguns - muitos até - dizem que
relacionamentos podem ser reconstruídos, podem ser mantidos através de esforço,
de entrega, de correção de rumos. Até pode ser. Porém, ele nunca mais será o
mesmo, sendo preciso analisar se essa tentativa de extirpar o tanto faz irá
realmente satisfazer o coração e a alma ou somente será uma tábua de salvação que leva o
relacionamento à estagnação, à comodidade, ou, o que é pior: a lugar nenhum!
O
que procuramos afinal? Pessoas que nos completem – ou que sejam inteiras - mesmo em silêncio, mesmo confrontando-nos, ou
uma vida de “tanto faz”? Desejamos pessoas que andem em nossos caminhos sempre
com ares de novidade ou com uma certa mesmice estonteante, ou queremos
realmente uma rotina inócua de “tanto faz”? Queremos pessoas que façam parte dos nossos sonhos
e motivem nossos rumos, ainda que
incertos, ou estamos atrás somente de uma zona de conforto, para vivermos na
morbidez de dias sem cor, sem tons e sem desafios?
Em
“Por Enquanto”, Renato Russo demonstra a
força dessa expressão:
“nem desistir, nem tentar, agora tanto faz...
estamos indo, de volta, pra
casa...”
Esse verso pode ter várias
interpretações, mas observando o contexto poético, a meu ver, demonstra a
desilusão, a decepção, o desespero de quando não se tem mais nada a fazer. Um “tanto
faz” de quem admite a impossibilidade de reverter algo negativo, de quem sabe que há de conviver com a dor.
Uma coisa é certa: o “tanto faz”
tem acabado com muita coisa boa por esse mundo. Muito se perde no vazio de um "tanto faz"
Somos
pessoas merecedoras desse tipo de fatalidade?
Cada um deve descobrir a sua
resposta. E a atitude que se toma após essa descoberta, certamente muda tudo. Ou
não. Ou tanto faz?