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quarta-feira, 5 de abril de 2017

O "TANTO FAZ"



               “Tanto faz” é uma expressão de morte. Ou da proximidade dela. Mas não aquele “tanto faz” leve, despretensioso, pra “agilizar”, por vezes até carinhoso e afetuoso. Me refiro ao “tanto faz” mais profundo, mais significativo. Aquele que sai do coração, da alma, do cansaço mental, psicológico. Aquele que carrega consigo toda uma carga de decepção, de mazelas, de falta de consideração, de desinteresse, de mágoas ou coisas do tipo.
               Definitivamente, o “tanto faz” é uma sentença. Ou é o  início do fim ou é o próprio fim. É um sentimento e também a sua falta.
               Quando se decreta o “tanto faz” de uma forma recorrente para situações de relacionamento, é porque algo não vai bem. Seja no amor, na amizade ou na simples parceria. É um sintoma fatal de que a importância já não é a mesma, que o zelo e o cuidado já não fazem parte do cotidiano, tampouco são preferenciais.
               Quando alguém recebe um “tanto faz” como resposta para situações de relacionamento, de uma forma habitual, deve ficar atento. Isso é um forte indício de que, talvez, essa pessoa já não seja mais prioridade para a outra.
               Qual o motivo do “tanto faz”? Quando ele surge, e porque ele começa a fazer parte de nossas vidas? Difícil saber. Mas sua ocorrência não é rara, e isso é fato. Certamente, isso deve ser analisado mediante todo um contexto, para que se chegue a uma conclusão ao menos próxima da realidade. Descuido, desleixo, desamor, rotina, desconfiança, enfim... várias podem ser as causas.
               Não saberia dizer se há como reverter o cenário do “tanto faz”. Até acredito que sim. Contudo, creio que exista uma pergunta a ser feita no caminho: vale a pena?  Se o tanto faz surgiu, é porque houve desgaste, houve quebra, há um rompimento em pauta. Alguns - muitos até - dizem que relacionamentos podem ser reconstruídos, podem ser mantidos através de esforço, de entrega, de correção de rumos. Até pode ser. Porém, ele nunca mais será o mesmo, sendo preciso analisar se essa tentativa de extirpar o tanto faz irá realmente satisfazer o coração e a alma ou somente será uma tábua de salvação que leva o relacionamento à estagnação, à comodidade, ou, o que é pior: a lugar nenhum!
               O que procuramos afinal? Pessoas que nos completem – ou que sejam inteiras -  mesmo em silêncio, mesmo confrontando-nos, ou uma vida de “tanto faz”? Desejamos pessoas que andem em nossos caminhos sempre com ares de novidade ou com uma certa mesmice estonteante, ou queremos realmente uma rotina inócua de “tanto faz”?  Queremos pessoas que façam parte dos nossos sonhos e  motivem nossos rumos, ainda que incertos, ou estamos atrás somente de uma zona de conforto, para vivermos na morbidez de dias sem cor, sem tons e sem desafios?
               Em “Por Enquanto”,  Renato Russo demonstra a força dessa expressão:
“nem desistir,  nem tentar, agora tanto faz...
estamos indo, de volta, pra casa...”
Esse verso pode ter várias interpretações, mas observando o contexto poético, a meu ver, demonstra a desilusão, a decepção, o desespero de quando não se tem mais nada a fazer. Um “tanto faz” de quem admite a impossibilidade de reverter algo negativo, de quem sabe que há de conviver com a dor.
Uma coisa é certa: o “tanto faz” tem acabado com muita coisa boa por esse mundo. Muito se perde no vazio de um "tanto faz"
               Somos pessoas merecedoras desse tipo de fatalidade?
Cada um deve descobrir a sua resposta. E a atitude que se toma após essa descoberta, certamente muda tudo. Ou não. Ou tanto faz? 


terça-feira, 4 de abril de 2017

O PROBLEMA SOMOS NÓS!


O RS é o Estado dos exageros. É bom e ruim por isso. Trato agora do lado ruim, que é quando o nosso bairrismo ou complexo de suposta superioridade atropela o bom senso. Ou nossos desencantos vem à tona. Na música e na poesia isso é ainda mais latente. As pessoas perdem a capacidade de entender contextos maiores, e parecem querer descarregar, por exemplo, suas frustrações em um menino de 9 anos apenas, como tenho tido o desprazer de constatar por aqui. Dissertam teorias de canto e postura cênica como se fossem ases da interpretação, muitos sem terem conseguido em uma vida inteira um décimo do que esse piá conseguiu, nem mesmo em personalidade!
No próprio cancioneiro gaúcho desde sempre eu não sou capaz de fechar duas mãos de cantores que sejam tão bons quanto o que esse povo tem exigido. Ao contrário, a maioria tem mais amor ao que faz do que técnica propriamente dita. E isso é ótimo. É o nosso "sotaque" musical. É pura chatice mesmo. Gente enchendo o saco por causa da pilcha, quando só usa pra ir num bailezito, ou tomar mate na praça ou posar pra foto e ficar com cara de bunda fantasiada. O gaúcho, por conceito e ideal, é livre. Por ser livre, é gaúcho do jeito que quiser, na forma que lhe aprouver, em especial, quando não há regra do jogo. Essa mania de implicar com a maneira de cada um e de normatizar o ir e vir e até o pensar dos outros, cada vez diminui mais nossos costumes, afasta ao invés de agregar. Ficamos mais longe ainda de um tempo que dizemos perseguir. Quando não conseguimos aplicar bom senso e nem ficarmos felizes pelas conquistas de uma criança, cujo feito é grandioso, avançamos rumo a um estereótipo de ser, que há de lamentar por ter perdido sua capacidade de evoluir, ainda que se queira manter as raízes firmes no chão. Isso é preocupante. Árvores secas não dão frutos, e suas raízes não resistem ao tempo, que sempre há de cobrar seu uso indevido.
Gaúchos de verdade, pessoas que contribuem de fato para sermos o que somos - e o que seremos - possuem empatia, são capazes de amar e de admirar o próximo. Gaúchos de verdade sabem que há um limite para passar vergonha opinando por meio da inveja e do despeito.
E ponto.