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quinta-feira, 25 de junho de 2015

TRINCHEIRA DA TRADIÇÃO



Pessoas como Antônio Augusto Fagundes, o “tio Nico”, são trincheiras da nossa tradição. Talvez sejam a última fronteira que separa aquilo que cultuamos e veneramos, a nossa cultura mais genuína, de um futuro obscuro e incerto para o qual marchamos, reservado pelo tal progresso a praticamente todos os costumes, raças e povos existentes no mundo.
Qualquer ser humano é insubstituível e quando realiza sua passagem, certamente deixa um vazio que jamais será preenchido, no seio familiar e no convívio social. Contudo, algumas pessoas vêm ao mundo para desempenhar tarefas e funções de suma importância, fazendo isso de uma forma tão particular e competente, com tanta desenvoltura e simplicidade, que é inimaginável que se pense que, em algum momento, será possível sequer aproximar-se dos feitos por elas realizados. O tio Nico era uma dessas pessoas.
De uma forma geral, acredito que não exista alguém no Rio Grande que não conheça ou que não tenha ouvido falar muito do apresentador, historiador, antropólogo, poeta, diretor, roteirista, advogado, enfim... do gaúcho e mestre Nico Fagundes. Quem nunca formou ou finalizou uma frase com o bordão mais conhecido do RS: “até domingo que vem, gaúchos e gaúchas, de todas as querências”...?
A trajetória de um homem é quem melhor conta sua história, é quem melhor nos diz quem ele é, foi e/ou continuará sendo.
Antônio Augusto Fagundes não se resume ao seu lado mais conhecido, visto e apreciado no Galpão Crioulo. Sua importância vai muito além disso. Quantos artistas e talentos do nosso Estado estão hoje relembrando maravilhosos momentos vividos junto a este ícone da nossa cultura, muitos tendo sido inclusive revelados e incentivados por ele? São inúmeros os relatos – e fatos -  que concretizam e afirmam a imagem e o caráter de uma criatura carismática, talentosa e de memória inigualável, possuidor de um cabedal de conhecimentos sobre sua aldeia simplesmente incomensurável. Infelizmente, não teremos como nos apoderarmos disso. Pelo menos, não inteiramente. Porém, a obra e o feitos deste homem haverão de nos levar a um caminho onde possamos, no mínimo, absorver parte dos seus ensinamentos, o que certamente já é de extrema valia.
Antônio Augusto Fagundes parte mas deixa um legado a ser seguido, um rumo a ser perpetuado. Não há como obstar o que ele semeou em nossa cultura e que perpassa o que dizem suas maravilhosas e singulares poesias. Seus rastros na história e na cultura do Rio Grande são indeléveis e certamente serão seguidos por vários de nós, combatentes do exército cultural gaúcho.
Aquele que cultua e luta pelos costumes de sua terra e de sua gente, ao manter-se arraigado em sua cultura, certamente projeta-se ao futuro, sendo alguém além de seu tempo. São pessoas raras, incomuns, possuindo dons e uma fibra que a outras não foram dados. São líderes natos, abençoados com a capacidade de abrir picada para nossa gente, quando tudo mais parece nos cercar e convidar à mudanças aparentemente benéficas, mas que acabam por dizimar nossa estirpe e deturpar nossa descendência.
Tio Nico escreveu , no clássico “Origens”, algo muito próprio para este momento:
“Eu sei que não vou morrer
Por que de mim vai ficar:
O mundo que eu construí
O meu Rio Grande o meu lar!
Campeando as próprias origens
Qualquer guri vai achar”
           Somente ele para deixar uma mensagem até certo ponto confortante para este momento de lapso cultural que parece apropriar-se de nossa história. Em sua simbiose com nossa terra, a imagem do homem é praticamente a mesma do Sul. A distinção é meramente conceitual.
               Certamente, a partir de hoje, ergue-se uma lacuna na cultura rio-grandense. Contudo, também haverá muito a ser encontrado, estudado, aprendido, admirado e praticado. Qualquer guri vai achar... é só querer. Só depende de nós a continuação de um trabalho que foi realizado com muita dedicação ao longo de décadas. Somos guardiões desse patrimônio que nos foi deixado.
               O Rio Grande não terá outro Antônio Augusto Fagundes, assim como também não terá outro Jayme e tantos mais que já cumpriram sua etapa terrena, neste tempo... o golpe foi forte, mas o próprio Nico viveu sua vida a fim de preparar nossa gente para isso: absorver o que o dia a dia e o futuro nos reservam, mas seguir em frente, com as raízes bem fincadas no chão.
               Te agradecemos, mestre. Choramos, ficamos de luto, mas também estamos felizes por termos tido a oportunidade de conviver contigo e, de alguma forma, presenciar e saber de tua importância para a nossa cultura, nossa gente e nossas história. Haveremos de honrar-te e, por meio de toda a tua contribuição, perpetuaremos da melhor forma aquilo que bem nos ensinaste: ser Rio Grande no cerne e na essência, com autenticidade e simplicidade.
               Ainda que vires a cabeça para o Alegrete, queremos que saibas que todo o Sul te pertence, todo o Rio Grande é tua pátria.
               Gracias mil, um grande abraço nosso, fica com Deus, Tio Nico!!! Não abandonaremos a trincheira!!!





              

domingo, 7 de junho de 2015

DEUS E RELIGIÃO

Definitivamente Deus e religião não combinam...é duro - e polêmico - dizer isso, mas é verdade.
Alguém poderá dizer que não é bem assim, que estou extremamente equivocado. Mas tenho plena certeza - sem medo de castigo - que o Deus verdadeiro é tolerante, compreensivo, é do bem. Ainda que não compreenda muito - e nem concorde - com a maneira como Ele conduz determinadas situações, acredito piamente que o Deus verdadeiro não exclui negros, não humilha mulheres, não sacrifica animais e também ama os homossexuais, assim como respeita tudo que é feito de maneira fraterna e sem prejuízo aos demais seres (humanos ou não).
Ainda que possam existir teses advindas dos mais variados livros "sagrados" existentes nas mais variadas religiões, somente uma coisa é certa: quem os escreveu foi o Homem. Assim como quem criou a (s) religião (ões) também foi o Homem. Os dogmas, os conceitos, os princípios, os rituais e as regras foram escritas, reescritas e manipulados através dos séculos, conforme as necessidades de cada época. Qualquer criança hoje em dia sabe disso.
Deus não manda - e nunca mandou - matar alguém, seja pelo motivo que for. As religiões sim. A intolerância entre as crenças, as perseguições aos grupos contrários, a dizimação entre os (des) iguais, nada disso é coisa de Deus. É coisa da religião... portanto, coisa do Homem.
O controle social exercido pela religião, mais do que ultrapassado, tem se tornado nocivo. Ao meu ver deve ser substituído por muita educação, em todos os níveis. Deve ser substituído pela verdade plena, pela preparação para a vida como ela é. Somente assim é possível que alcancemos um nível de dignidade e respeito maior entre todos.
Precisamos avançar... a cegueira que nos impede de termos um mundo melhor, bancada por religiões e crenças é um grande problema sobre o qual ninguém quer falar de forma séria e responsável. Isso traz prejuízo eleitoral e financeiro.
Deus é amor e paz, no mais amplo sentido destas palavras. O restante são coisas elaboradas e inventadas pelo Homem.
Com certeza Deus não quer templos enormes ou um Vaticano coberto de ouro... nem animais sofrendo, ou guerras entre cristãos e muçulmanos.
Será que Deus realmente precisa de intermediários? Como um pecador igual a nós poderá nos livrar do inferno? E o inferno não é o que já vivemos, em nosso tempo, com nossas escolhas ou pela total falta de opção que às vezes nos é imposta?
Piorando esta realidade, me constrange o fato da promiscuidade existente entre a religião e políticos. Que na verdade, sempre houve. A religião sempre teve a sede do poder, seja ela qual for. A religião, de forma histórica, sempre quis ter servos, e não pessoas voltadas a Deus, tão somente.
Assim sendo, não há como dizer que religião não é tão podre quanto a política. Alguém consegue distinguir uma da outra? Não, porque tudo na vida é política. Um pouco mais, um pouco menos, mas sempre é. Religião se encaixa no "um pouco (muito) mais".
A confusão existente entre Deus e religião, tem atrasado o desenvolvimento da humanidade. E cada vez mais isso é verdade.
As isenções de tributos concedidas às Igrejas, por exemplo, com desculpas mais ou menos constitucionais, são uma ofensa aqueles que trabalham, que produzem, que são honestos e que batalham pelo pão de cada dia. Esse maniqueísmo, essa enrolação divinal, faz com que surja uma igreja em cada esquina, um culto em cada canto, uma "nova" crença a cada segundo. Enganação e picaretagem estão dando cada vez mais lucro. Como sempre, para poucos. E com o aval do Estado.
A humanidade se entrega a falsários, radicais extremistas, pedófilos, vaidosos e gente de caráter duvidoso, como se estas almas tão ou mais devedoras do que nós pudessem realmente ser um elo para uma imaginária salvação.
Contudo, no fim, com certeza saberemos que nunca foi entre nós e o padre, ou o pastor, ou o pai-de-santo, ou médium, ou rabino, ou o aiatolá ou seja lá quem for a "autoridade" religiosa...sempre foi - e sempre será - entre nós e Deus.
Simples assim.