A negligência é um grande
problema. E o que a torna mais perigosa é o fato de que a negligenciamos. Algo
meio surreal... e irônico.
Quando a negligência se torna
rotina, deixamos de percebê-la, não atentamos para os riscos que ela nos traz.
Dificilmente ela surge de forma
abrupta, geralmente vai nos envolvendo, vai adentrando nossas vidas pelas
frestas do cotidiano, pelas frinchas do descuido, entre as sombras do
desmazelo. Quase sem perceber, negligenciamos grande parte das coisas naturais
e que nos fazem tão bem para sermos absorvidos por coisas insignificantes, que
não acrescentam nada, ou que não agregam fatores positivos a nossa alma.
Não raro, negligenciamos a
essência humana, para mergulharmos, absortos, no afrodisíaco paraíso das
bestialidades materiais, na mais legítima ostentação do ter, sempre em detrimento
do ser. São os descaminhos da vida, as luzes falsas do mundo, oásis imaginário em
meio a desertificação do benquerer.
Até mesmo a Bíblia, livro que
atravessa os séculos e lida com o poder da fé, possui momentos nos quais podemos
verificar a constante preocupação com a capacidade que nós, seres humanos,
temos de agir com desleixo e descuido. Vide, por exemplo, Hebreus 2:1-4.
A negligência age em nossas vidas
em contraponto: ora somos vítimas, ora somos vilões. Vivemos num misto de
mocinho e bandido. Por vezes, somos os dois lados da moeda. E, com toda a
certeza, sempre somos atores.
Quanto de negligência há na tão
badalada prática do desapego? Por certo, poucos param para pensar sobre isso. E
quando se dão por conta, já negligenciaram.
A negligência no trabalho, gera
a despedida, a rua.
A negligência na família e nas
amizades, gera o abandono, o desafeto.
A negligência no amor, gera o seu
oposto ou a indiferença.
A negligência na vida, gera a
morte. Mesmo que em vida.
Muitas vezes, os danos causados
pela negligência são irreparáveis.
Negligenciar o que realmente tem
importância, é estar com os dois pés fincados no inferno do “pouco caso’. É navegar
no mar revolto do “pouco me importa”, que acaba sempre levando nossos barcos
para o porto da angústia, da solidão, do medo e da frustração.
Em regra, não temos tempo para
negligenciar a vida. Mas, por natureza, negligenciamos regras.
A negligência é uma arma apontada
contra o bom senso, pronta para destruir nossa consciência, para animalizar e
canibalizar nosso coração e nossos sentidos. Ela afeta, deturpa e destrói nossa
humanidade.
Estabeleça uma meta: NÃO
NEGLIGENCIAR. Talvez não seja fácil, mas certamente pode ser compensador e
edificante perceber que é possível lutar contra nossas próprias falhas, nossos
próprios desvios de caráter e conduta.
Não somos perfeitos. O fato é que
precisamos melhorar e progredir sempre. E não podemos negligenciar isso.
(imagem: Google/internet, sem autoria)
Caine Teixeira Garcia.
Bagé, 26/01/2017