Por razões de
disciplina e em respeito ao ambiente de trabalho e demais pessoas que nele
encontram-se envolvidas, há muitos anos aboli o hábito do mate durante minhas
atividades de serviço. Assim, acabo por não carregar mais meus apetrechos para
amarguear, salvo quando estou de folga.
E que falta me
fez o mate hoje... que dia lindo...
Sozinho, no
intervalo da lida, agradeci a Deus pelo sol maravilhoso que me aqueceu o corpo
e a alma. Pude contemplar um joão-de-barro, com seu canto estridente, também
agradecendo a natureza, por mais um dia maravilhoso. Pertinho, bem do meu
lado, aquele obreiro estufava o peito e mostrava toda a sua galhardia.
Aproveitei a
parceria da natureza para mergulhar em alguns momentos de reflexões, os quais
tenho considerado cada vez mais importantes. É nestas horas que me sinto mais
próximo Dele... cruzando meus silêncios e sozinho com minhas incertezas,
indagações e memórias. Nestes momentos, sou mais de mim.
Percebi
perfeitamente o tempo passar... sem desespero, sem angústias. Me senti mais
vivo e mais feliz, com o vento embalando o outono nas folhas dos plátanos, já cobertos
de um áureo magnífico.
Felicidades de
sois e ventos.
Quando nos
apartamos momentaneamente de nossos iguais e da correria na qual acabamos
envolvidos em nossa rotina diária, temos mais tempo de valorizar cada
movimento, cada respiração, cada sutileza. Dá até mesmo para escutar o bater do
nosso coração. Os pensamentos são quase materializados, de tão claros e lúcidos
que se tornam. Revigoramos a energia para correr atrás de nossos sonhos, para
pormos em dia algumas coisas que necessitam de nossa atenção mais cuidadosa.
Extirpamos um pouco de nossos medos e a coragem ganha ânimo redobrado... pelo
menos comigo, isso acontece.
Alguns
momentos de paz, observando o que nos cerca, nos dá uma real dimensão do
milagre que é estarmos vivos. Ter a chance de tentar fazer de uma forma
diferente aquilo que não tem dado muito certo, ou valorizar de verdade aquilo
que consideramos importante, é realmente uma dádiva.
A oportunidade
que nos é concedida para acordarmos para mais um dia de batalhas, com derrotas
e vitórias, com agruras e bênçãos, é mais ou menos como o milagre das folhas
dos plátanos, que se renovam no ciclo eterno das estações.
Os mais
pessimistas consideram apenas que viver é morrer um pouco a cada dia...
fisicamente, até pode ser. Do ponto de vista espiritual, acredito que esta
maneira de pensar é um tanto quanto equivocada.
Creio que
existe algo mais, algo maior. Acredito que a cada dia que passa, avançamos mais
e mais na senda de nossa história, escrevendo nossa trajetória no Universo!
Isso não tem nada a ver com morrer... ao contrário. Entendo que nossa evolução
depende disto. Simples assim. E complexo também.
Nestes
momentos introspectivos, sempre penso nos meus, naqueles pelos quais vivo... e
me sinto feliz por ter alguns instantes de solidão física, nos quais me
complemento e cresço espiritualmente, numa quase oração informal, e me sentido
realmente parte das obras do Criador.
Felicidades de
sois e ventos.
Poderia ter
aproveitado ainda mais... que falta me fez um mate hoje...
Caine véio, sabedorias de um pensador . Penso que a vida é isso amigo Caine, o único sentido é sairmos melhor do que entramos , e essa caminhada de preparo é que da o sentido no curto prazo, cultuar ao conhecimento e a si mesmo , nada mais é que dar sentido , ou a busca por ele, que quando insistida com sinceridade, ganha algum rumo, também nos aprendizados duros e desmotivantes das 'forquilhas' da estrada, que no meu ver, realmente nos remetem a uma melhor compreensão, para vivermos mais fortes e felizes ,e mais maduros, frutificarmos o nosso neste mundo .Quando usamos desta 'intimidade' de nos olharmos, conseguimos ao menos respirar fundo e ver que o milagre de estar vivo é quase um sonho , e por mais que 'os sonhos , apenas sonhos são' , como disse Calderón De La Barca , ele sempre pode ser infinitas possibilidades. Nós que tomamos mate, compreendemos muito bem esta introspecção ao intimo que te referes, toda vez que sólitos fazemos este ritual, e mesmo sem ele divagamos pelos salões dos mais profundos e veteranos sentimentos , aonde as sombras caminham pelas eternas questões da razão humana. Esta observação da natureza, talvez a compreensão do seu código, queira dizer também um pouco isso, que só podemos atestar ou supor pela inclinação de estar ali e ligar o fato real instantâneo ao intimo, caso não fique tão complexo, para mim é o mesmo que falastes e que falo nestas linhas, eis que ai a vida e a razão entre as coisas ganha todo sentido de vivacidade.Amigo Caine, eu que não ando em uma fase de certezas, ou confortável de vida,pelo contrario, sei por ter andado demais no banhado e me atolado, no estudo revolucionário politico da vida , entre a teologia das liberdades e o relativismo moral, entre outras barbaridades que atormentam a mentalidade contemporânea dos de minha geração e os fracassos morais em massa; Hoje sei que o trilho da vida , se torna mais compreensível e nos leva a iniciar esta jornada de relacionamentos, pela duvida moral que desfrutamos nestes momentos de descoberta do intimo e do verdadeiro, joeirar com paciência , jamais fugir de si mesmo, ter paz interior para aprender e compreender, é o que nos faz lentamente, francamente e humildemente, dar passo por passo com algum sentido nesta linha da existência, só isto em si, que é tudo que sei com muito esforço, já é um sentir inegável e que nos liga com o divino , em outras palavras, entre a bifurcação da vontade que eternamente enfrentaremos, fazer o que é da vontade do próprio e autentico sentir humano, é sempre o melhor , e o que talvez Deus quisesse que fizéssemos. Assim eu vejo, que a vida é ilimitadas possibilidades de escrita, e digo que ela pode ser poesia de infindáveis cabeçalhos. Grande abraço deste amigo que te aprecias, e perdoe a moléstia de um pensamento inspirado.
ResponderExcluirGrande amigo Filipe, que bom poder contar contigo nesta estrada meu jovem. Nossas conversas, troca de ideias e reflexões, com certeza fazem parte de uma senda evolutiva que estamos trilhando. É sempre um prazer apreciar tuas manifestações. Abração, meu amigo!
ExcluirCaro amigo Caine, estava perambulando noturnamente pelos pensamentos talvez do homem mais sábio que já descobri, e encontrei no primeiro paragrafo que deixarei copiado aqui por me lembrar do amigo, algo muito singular dito de forma límpida, que remete um pouco ao tema das tuas linhas e que enrolei nas minhas. Contudo , deixo o texto integral, por ser um lindo pensamento. Grande abraço!
ResponderExcluir''Nós somos o produto de um ato de Deus. E o ato divino tem que ter um sentido, e este é o sentido contemplativo. Não há a menor dúvida de que na medida em que você contempla, você se transforma um pouco em Deus; mas simbolicamente, não realmente. Você se torna capaz de 'ver' Deus na medida em que você contempla. E isto está presente na contraposição que há entre homens e mulheres.
Os homens são solares, e as mulheres são lunares. E isto, o que significa? Significa que os homens e as mulheres são profundamente diferentes quanto a visão de mundo e comportamento. E são diferentes porque os homens, sendo solares, eles, de certo modo, criam um enredo ao qual as mulheres se subordinam (esta é a razão pela qual historicamente as mulheres ganham o nome do marido após o casamento). A parte lunar da mulher é passiva em relação ao homem. No entanto, somente a parte lunar é capaz de 'ver' Deus. Porque não é possível 'ver' Deus pela parte solar, pois um sol afusca a visão de outro sol. Só é capaz de ver Deus quem é lunar. Então, a missão existencial da mulher é mostrar Deus para o homem. Só a mulher é capaz de ver Deus e só a mulher é capaz do amor total e verdadeiro, que é aquele amor em que a pessoa desaparece no outro. Este amor só é possível para alguém basicamente lunar, e nenhum homem é capaz disto. Então, o homem só verá a Deus se for capaz de ser nalguma medida lunar, ou seja, de ser nalguma medida contemplativo. O homem prático, de ação, é o homem solar. Mas a única parte masculina capaz de ver Deus é a parte lunar, que é o que as mulheres são fundamentalmente. Portanto, esta separação entre homem e mulher é algo de uma sabedoria extraordinária, e não tem um sentido de natureza sexual, apenas. Não é uma separação reprodutiva, mas uma separação de natureza profundamente ontológica. Só o homem quando se 'transforma' um pouco em mulher, quando consegue ser um pouco lunar, é capaz de perceber Deus. E a missão existencial da mulher é mostrar Deus para o homem''.
(José Monir Nasser – Comentários ao livro ''A crise do mundo moderno'', de René Guénon)
ExcluirMuito bom, obrigado por compartilhar, meu amigo! Grande abraço e muita luz!!!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir