Costumeiramente, tenho me olhado no espelho da noite... na calmaria da
madrugada, no silêncio dos meus adentros. Definitivamente, não é fácil
"estar consigo"... deveras, é uma jornada um tanto quanto ingrata.
Ontem, foi uma destas noites “eternas”.
Beirando os quarenta anos, vejo que muitas das coisas pelas quais batalhei, briguei, magoei e fui magoado; no final
das contas, talvez não tenham valido tanto a pena. É um
mistério...Luto algumas batalhas "perdidas" até hoje... e,
vergonhosamente, eu SEI disso. A bendita experiência, tão amaldiçoada
pela juventude, tem mesmo razão em todos os seus cuidados, em todas as
suas longevidades e certezas... o seu olhar carrancudo, ranzinza e
cinzento, tem sim, a estranha mania de colorir e explicar situações
futuras.
Mas considero a inexperiência um mal necessário, pois
determinadas coisas não podem ser assimiladas com sermões, narrativas,
castigos ou teorias. Devem ser sentidas na pele e, preferencialmente, na
alma.
Divagando, percebo que mudei pouco de “ídolos”... ainda
gosto muito, por exemplo, do Renato Russo. Canto todas as suas letras,
que considero sempre muito atuais... ele, que era um ser extremamente
contraditório – e talvez por isso, tão fascinante – disse sabiamente em
“Tempo Perdido”: “...mas temos muito tempo, temos todo o tempo do
mundo...” e, depois, em outro verso, antAGONIZOU: “...sempre em frente,
não temos a tempo a perder!”
Me entristeço com a obviedade
irrevogável de que já passei – em muito - da fase em que tinha “todo o
tempo do mundo”... cada vez tenho mais carência de tempo, o tempo todo!
Em contraponto a isso, a fase dos “enta” parece que desacelerou
um pouco meu ímpeto... embora eu ainda seja um sujeito um tanto quanto
hiperativo, minha pressa já não é a mesma, a exigência para comigo – e
para com os outros – também não...
Porém, ainda assim, eu
creio que alguns minutos de qualidade tenham mais serventia – e sabor –
do que algumas horas de intensa mediocridade. Essa é uma regra que
parece valer para todas as situações, praticamente. A coisa é mesmo de
pirar!
Os pensamentos não sonegam detalhes... quase quarentão,
ainda gostaria de ter escrito algo como: “...na verdade nada, é uma
palavra esperando tradução”. Talvez nem o próprio Humberto Gessinger
tenha noção da genialidade dessa frase... ou, talvez, eu que esteja
superestimando...mas isso, hoje em dia, já não importa... desde que me
agrade!
Com esse raciocínio, percebo que praticamente sempre pensei
assim... ou seja, talvez eu não tenha mudado tanto...nem piorado, nem
melhorado, enquanto pessoa. Simplesmente tenha crescido, afinal, Peter
Pan não existe... eu acho...
Essas escolhas que mantenho, não foram
um fator impeditivo para que eu me aventurasse em outras coisas ou
visitasse outros “mundos”...
Enfim, mirando o espelho da noite – e
refletindo – me encontro com a certeza de que, inegavelmente, forjei
minha personalidade... isso pode ser sorte ou azar. Para mim ou, para
outros...quem sabe?
O fato é que ainda canto músicas do Renato Russo e do Humberto Gessinger Oficial,
da Legião e do Engenheiros... e ainda tento ser uma pessoa correta. Por
humano que sou, certamente tenho acumulado mais erros do que acertos.
Ainda não desisti de mim... mas nem mesmo a noite esconde o fato de
que estou ficando mais calvo, com mais rugas e menos atraente, se é que
já fui um dia. Há quem diga que também estou bem menos esperto...e
disso, ouso discordar. Quase escuto uma voz dizendo que, no interior,
estou bem mais bonito... mas é mentira, espelhos imaginários não falam!
Guardados os espelhos da noite, eu acordei o dia... e quando o sol
veio matear, eu já cantarolava “Tempo Perdido”... sempre sabendo que
preciso, ainda mais, de mais tempo.
E que me perdoe o Humberto, mas
também escuto sertanejo, curto bastante o Roupa Nova e às vezes consigo
até me divertir com o som da Anitta e do Michel Teló.
Tava na hora do trampo, parti ouvindo “Pampa no Walkman”... de bombacha!
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